Precariado das ruas, presente!
Percebe-se que este movimento do dia 01 de julho é um movimento pela dignidade, por uma nova ideia de coletividade e acima de tudo, pela vida. E uma nova mobilização nacional está marcada para o próximo dia 25 de julho
Dia 1 de julho de 2020 entrará para a história como um marco, o primeiro grande levante do precariado das ruas contra as condições de pauperização a que é diariamente submetido.
É importante destacar algumas questões que envolvem essa temática para entendermos o porquê esse é um dia para ser lembrado. Comecemos por uma recapitulação histórica.

Foi com o neoliberalismo, no final da década de 1980 e início dos anos 1990 que a desregulamentação do trabalho se intensificou no Brasil. Uma política que, por causa da ação do novo sindicalismo dos anos 1980, demorou um pouco mais se fixar no país, tendo se alicerçado nos governos de Fernando Collor/Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, sem contudo haver sido freado pelos governos petistas e de Michel Temer, ao contrário, foi especialmente nos anos 2000-2010 que esta nova morfologia ganha forma.
Precariado
A trípode destrutiva, conforme denomina o sociólogo Ricardo Antunes, isto é, a junção de terceirizações, privatizações, fez com que a caracterização do trabalho que surge das políticas neoliberais tivesse feições bastante singulares: são posições majoritariamente desregulamentadas ou terceirizadas ou informais, sem benefícios, fazendo-se valer de uma super exploração da massa de trabalhadores, com baixos salários e usufruindo da mão-de-obra jovem. A essa classe trabalhadora, denominamos precariado.
E essa nova morfologia só foi possível com a expansão técnico-informacional, que aumentou de maneira extraordinária o desemprego, bem como a maior mobilidade dos capitais financeiros e a consequente sujeição do social ao financeiro, que acabaram por inovar nas formas de acumulação, e venda do ideário de que a criação de novas posições de emprego somente seria possível através de reformas que retirassem direitos, pois direitos são caros.

É nesse contexto em que as pauperizações atingem níveis nunca antes vistos, após a aprovação de uma reforma trabalhista que só o que fez foi tirar direitos dos trabalhadores e com um desemprego nas alturas que surgem que entram em cena os entregadores.
Ao capital, enquanto expressão clara de dominação, nada mais interessante do que esta classe de trabalhadores pois não possuem benefícios; só conseguem obter mínimas condições quanto mais trabalhem, ou seja, extração de mais-valor relativa e absoluta; têm que usar seus próprios meios (carros, motos, bicicletas); o empregador não tem nenhuma obrigação. Tudo isso controlado por um algoritmo que pune àqueles que fazem pausas, ou que recusam novas entregas.
E não apenas isso, é uma classe desassistida por suas entidades representativas. Os sindicatos não abarcam a totalidade dos trabalhadores. Os sindicatos são insuficientes em contemplar os trabalhadores informais, o precariado de serviços, entre outras. Se a classe trabalhadora alterou em sua caracterização, os sindicatos seguem presos em sua esfera conciliatória e restrita aos trabalhadores formais não-terceirizados.
E o Estado tem toda sua contribuição pois, além de haver propiciado esta agenda neoliberal e desprovida de direitos, ainda chancelou a questão dizendo que não há vínculos entre os aplicativos e os entregadores.

De forma que retomamos a ideia: mesmo com todos os reveses contrários a estes empregadores, conseguiram se unir e parar para pleitear direitos básicos, como fornecimento de refeição, fim de bloqueios arbitrários, seguro de vida, roubo e acidente, aumento da taxa por entrega e, por fim, auxílio-pandemia. Requerem que haja disponibilidade de equipamentos de proteção e auxílio no caso de contaminação por Covid-19.
Percebe-se que este movimento do dia 01 de julho é um movimento pela dignidade, por uma nova ideia de coletividade e acima de tudo, pela vida. E uma nova mobilização nacional está marcada para o próximo dia 25 de julho.
Precariado das ruas, presente!