Primárias determinadas por pesquisas eleitorais
Os anúncios de candidaturas se multiplicam diante da aproximação da eleição presidencial de 2022 na França. Outrora apanágio dos partidos, o processo de seleção dos pretendentes vem sendo perturbado há quinze anos pela onipresença das pesquisas de intenção de voto, que muitos colocam no centro de sua estratégia. Em prejuízo da democracia?
Em geral, os comentaristas atribuem a proliferação das pesquisas ao retrocesso ou à falência dos partidos políticos. Mas não seria o contrário, a desqualificação dos partidos pelas pesquisas? A instituição da eleição do presidente da República por sufrágio universal em 1962 iniciou um processo que seu autor – o general De Gaulle – não poderia prever. Em matéria constitucional, talvez fosse necessário gravar no espírito dos legisladores esta fórmula jocosa do redator do texto que instituiu o sufrágio universal em 1848, Louis de Cormenin: “Seria bem curioso ver no que isso vai dar”. Não gostando nada da brincadeira, Alexis de Tocqueville acusou o jurista: “Foi como se ele falasse de um experimento químico”.1 A reforma constitucional de 1962 não tratava, é certo, do acesso à candidatura, apenas elevava o número de indicações necessárias de cinquenta (conforme a Constituição redigida em 1958) para cem. Portanto, em sua lógica plebiscitária, a reforma…