Primeiras lições do Kosovo
Xavier Bougarel
Seis meses depois da entrada das tropas da OTAN no Kosovo, o leitor francófono já dispõe de diversos livros que permitem conhecer melhor a recente guerra (março a junho de 1999), suas origens, seus protagonistas e suas conseqüências, tanto no plano local como no internacional. Quatro dentre estes merecem uma atenção especial.
O menor deles, no entanto o mais elaborado, é o de Michel Roux, intitulado Le Kosovo — Dix clés pour compreendre. Dividido em dez curtos capítulos, o autor, geógrafo da Universidade de Toulouse-Le Mirail, tenta “explicar a origem das guerras de 1998-1999 no Kosovo, situá-las no contexto balcânico, analisar as possíveis conseqüências e precisar as razões do envolvimento das potências e do interesse universal por esse conflito”.
Muito instrutiva e pedagógica, esta obra é também engajada: Michel Roux explica assim porque o regime do presidente Slobodan Milosevic é o principal responsável pela guerra do Kosovo (e por outras guerras iugoslavas), relativiza as críticas dirigidas à guerra aérea conduzida pela OTAN e defende a correção de sua intervenção militar. Bem informado e freqüentemente convincente, o autor não escapa todavia às simplificações abusivas: existem bem mais do que “vagas alegações” sobre o caráter mafioso e extremista do Exército de Liberação do Kosovo (UCK); certas observações, sem dúvida pertinentes, sobre a fraqueza do nacionalismo albanês poderiam ser aplicadas ao caso sérvio; e o debate sobre a intervenção da OTAN não se resume a uma oposição entre valores morais e Realpolitik, ou entre partidários da ingerência e da soberania.
Aspectos pouco comentados
Duas obras coletivas, De la question albanaise au Kosovo e La Guerre du Kosovo — Eclairages et commentaires, completam esta abordagem. A primeira trata mais em detalhe da história e da atualidade da questão albanesa nos Balcãs. A segunda, muito crítica com relação à intervenção militar da OTAN, contém várias contribuições interessantes sobre isso (Olivier Corten, sobre o fracasso do “plano de paz de Rambouillet”, Barbara Delcourt, sobre a questão do direito de ingerência, André Dumoulin e Bernard Adam, sobre os ensinamentos militares e políticos da intervenção). Os artigos tratam ainda de certos aspectos pouco conhecidos da guerra do Kosovo (como o de Luc Manpaey, sobre as conseqüências ecológicas dos bombardeios da OTAN).
O livro de Bernard Ravanel intitulado Une guerre de gauche? não aborda exclusivamente a guerra do Kosovo ou a crise iugoslava, embora contenha um certo número de avaliações sobre estes dois pontos. Trata-se sobretudo das reflexões de um homem de esquerda, oposto tanto ao nacionalismo de Slobodan Milosevic, quanto aos bombardeios da OTAN, recusando-se a reduzir o debate sobre a guerra a uma oposição entre “belicistas empedernidos” e “pacifistas ingênuos”, interrogando-se sobre a atitude que as forças de esquerda devem adotar diante das novas formas de guerra e das suas justificações (“ingerências humanitárias”).
As respostas esboçadas pelo autor deixam às vezes o leitor faminto de mais debate, mas têm o mérito de recusar os discursos correntes e as falsas dicotomias sobre as quais estes se baseiam (belicistas/pacifistas, intervencionistas/defensores da soberania, etc.) Desse ponto de vista a tentativa de Bernard Ravanel é corajosa e salutar.
Michel Roux, Le Kosovo — Dix clés pour compreendre, La Découverte , Paris, 1999, 127 páginas.
Jean-Michel De Waele e Kolë Gjeloshai (sob a direção de), De la question albanaise au Kosovo , Complexe, Bruxelas, 1999, 152 páginas.
Bernard Adam (sob a direção de), La Guerre du Kosovo — Eclairages et commentaires , Complexe/GRIP, Bruxelas, 1999, 179 páginas.
Bernard Ravanel, Une guerre de gauche? Pour la paix à travers le droit , Editions Golia