Quando a Fundação Gates semeia a fome
Considerando a crise alimentar iminente provocada pela guerra na Ucrânia, o Banco Africano de Desenvolvimento aprovou, em 23 de maio, um plano de emergência para aumentar a produção continental. Circunstancial, essa opção produtivista, baseada em “sementes e fertilizantes aperfeiçoados”, vai ao encontro do desastroso desenvolvimentismo agroindustrial dos grandes doadores
Mais de um africano em cinco sofreu com a fome em 2020. Vítimas colaterais dos conflitos e da violência que assolam o Sahel e a África Central, esses 281,6 milhões de pessoas sofrem igualmente as consequências da “variabilidade e [dos] extremos climáticos”, bem como das “desacelerações e reduções econômicas”, principalmente ligadas à pandemia de Covid-19, explica um relatório conjunto das Nações Unidas e da União Africana (UA).1 À medida que a guerra na Ucrânia prejudica o abastecimento e faz os preços subirem, o espectro da fome mostra-se ainda mais ameaçador:2 25 países africanos importam mais de um terço de seu trigo da Rússia e da Ucrânia;3 o Benin e a Somália dependem totalmente dos dois países. Apesar desse triste balanço, as políticas públicas agrícolas e as escolhas de sistemas alimentares existentes no continente africano são pouco criticadas. Muito pelo contrário, a visão produtivista vai de vento em popa. Os chefes…