Quando o Estado paga para desaparecer
Redigir leis, convocar mesários para as eleições, encomendar máscaras, organizar campanhas de vacinação… Cada vez mais as responsabilidades do serviço público são confiadas a consultorias, como a McKinsey. O custo dessa transferência, contudo, está excluído do debate público, assim como a perda do know-how do serviço público
“Bem-vindo ao VFS Global, parceiro oficial das autoridades francesas na Argélia”, proclama o site de um prestador de serviços encarregado pelas autoridades francesas de fazer a triagem dos dossiês de vistos para a França.1 Há dez anos, Paris confia a ele o tratamento das demandas que lhe são dirigidas por alguns países do mundo, como a Argélia. Mas a terceirização das funções soberanas do Estado alcança, desde então, todas as atividades públicas, a ponto de pouco escapar dela, desde a mediação cultural até a assistência social à infância. A situação tomou um rumo singular há dez anos: desde então, os poderes públicos realizam licitações ditas “para assistência ao controle da obra”, de modo a selecionar prestadores de serviços capazes de ajudá-los a... selecionar ou gerenciar prestadores de serviços. A maior parte dos franceses descobriu que o envelopamento e a distribuição da propaganda eleitoral foi confiada a prestadores de serviços privados…