Quando os patrões colaboravam
Gilles Perrault
Os industriais e banqueiros franceses se entregaram à colaboração econômica entre 1940 e 1944, ou os “escorregões” foram ações de alguns “bandidos e piratas” nada representativos do mundo dos negócios? Prefaciado com vigor por Jean Ziegler, outro especialista em destruir certezas que consolam, Annie Lacroix-Riz se afasta da historiografia dominante, desenhando o quadro de uma colaboração generalizada e muitas vezes entusiasta. Tem um defeito: sua fidelidade à linha de interpretação marxista, que a faz ser tachada por seus colegas, como ela mesma o diz, de “provocadora”. Seu trunfo é o recurso sistemático ao arquivo, o que a distingue de muitos de seus colegas que hoje estão mais para ensaístas que escrevem sobre a História do que historiadores no sentido rigoroso do termo.
A condenação desse livro ao silêncio, como foi feito amplamente com obras precedentes desta franco-atiradora, será mais tranqüila que sua refutação. Fundamentando cada uma das suas demonstrações em um pedestal de arquivos de uma solidez granítica, a autora pulveriza os lugares-comuns mais bem estabelecidos. Vichy foi responsável por tudo, segundo a tese alegada pelo mundo dos negócios na época da Liberação? Nada mais falso. O regime de Pétain limitou-se, no mais das vezes, a ratificar acordos firmados diretamente pelos industriais e banqueiros franceses com o ocupante. Discrição patriótica da elite econômica diante das oportunidades oferecidas? A corrida aos negócios judeus para torná-los arianos atesta, ao contrário, uma voracidade indecente. A lista das aves de rapina, cujos herdeiros mantêm a cabeça alta, é de apertar o coração.
Desejando o nazismo
O ridículo soma-se aleatoriamente ao odioso. É o caso de propostas feitas, em 1941, ao ocupante, para uma exploração em comum das riquezas de uma União Soviética que parecia à beira do colapso, os franceses mostrando, é claro, uma modéstia razoável quanto à divisão do bolo. Na verdade, as associações de capitais entre empresas francesas e alemãs — sobre as quais a autora fornece copiosa documentação, assinalando de passagem a notável exceção de Michelin — demonstram que a perspectiva de uma Europa dirigida pelos nazistas era não só amplamente aceita como até mesmo desejada. Annie Lacroix-Riz concorda com Robert Paxton, que escreveu recentemente que as elites do dinheiro priorizaram o inimigo interno em relação ao inimigo externo.
A evolução da guerra acarretou lúcidos reacomodamentos. Era preciso ser um Pierre Taittinger para procurar, com uma tenaz energia, colocar seus parentes nos negócios judeus até a primavera de 1944. Seus pares evoluíram sabiamente em direção à paz americana, que eles viam esboçar-se no horizonte e que os garantia contra os exageros de um gaullismo estranhamente associado à revolução social e aos sovietes por todos os lados.
Fechado o livro, sonha-se com a famosa frase de François Mauriac, que certamente nunca se proclamou marxista, segundo a qual a classe operária francesa foi a única a permanecer fiel à pátria profanada. Annie Lacroix-Riz traz a apaixonante e esmagadora demonstração do contrário.
Annie Lacroix-Riz, Industriels et banquiers sous l’occupation. La collaboration économique avec le Reich , Prefácio de Jea