Que futuro nos espera?
Jacques Robin
Sob o título de L’Ère de l’information, Manuel Castells (sociólogo espanhol lecionando há vinte e cinco anos na Universidade de Berkeley, Califórnia) publica uma trilogia ambiciosa, na qual relaciona considerações tecnológicas, sociológicas, econômicas e históricas sobre a mutação informacional que, nos últimos decênios, tem gerado a “sociedade em rede”.
Alguns lamentarão que, antes de entrar no cerne do tema, o autor não tenha colocado duas questões decisivas: o que é exatamente a informação e de onde ela provém? Teria sido necessário que ele então lembrasse que esta grandeza física mensurável e destituída de sentido está ligada à descoberta, em meados do século XX, de uma característica inédita libertada pela matéria e cuja especificidade é evidente em relação à energia [1].
Portanto, Castells toma o trem andando e disseca notavelmente as tecnologias revolucionárias que decorrem dessa mutação informacional: a informática, a robótica, as telecomunicações digitais e as biotecnologias. Resguardando-se de falar em “sociedade da informação”, estuda em detalhes a emergência das novas estruturas sociais manifestadas sob formas diversas em função da variedade das culturas e das instituições. Surgida em pleno período de reestruturação da economia global, esta nova sociedade é ao mesmo tempo capitalista e informacional.
Não podendo reconstituir aqui a amplitude da reflexão do autor, digamos simplesmente que seus três volumes são aconselháveis ao maior número de leitores. Citemos entretanto três clivagens fundamentais que ele coloca em evidência: “A ruptura, no seio do mundo do trabalho, entre produtores informacionais e mão-de-obra genérica; a exclusão social de um segmento considerável da sociedade, composto de indivíduos cujo valor, como produtores/consumidores, não interessa mais e cuja pertinência, enquanto pessoa, é ignorada; o fosso crescente entre a lógica do mercado de redes financeiras e o vivido pelos trabalhadores.”
Uma saída otimista?
Entretanto Castells evoca também uma perspectiva otimista na qual se combinariam identidade cultural, estabelecimento de uma rede global e políticas multidimensionais. E apesar do abismo crescente entre nosso superdesenvolvimento tecnológico informacional e nosso subdesenvolvimento social, ele espera, em suas conclusões, que “o poder do intelecto liberará as capacidades produtivas como jamais se havia visto antes (…) e que poderemos nos reconciliar com a natureza, sem comprometer o bem-estar material de nossos descendentes”.
Estava na ordem natural das coisas que este vasto panorama fosse recuperado: Numa grande unanimidade a mídia, citando Castells, proclama desde há pouco o nascimento de uma “nova economia”. Criada pela invasão da Internet na vida das empresas, ela assinalaria a renovação de um capitalismo individualizado e descentralizado, porém aberto apenas aos melhores dentre os ganhadores. A mais perfeita ilustração disso seria fornecida pela expansão contínua que os Estados Unidos vivem hoje.
Existem ainda, felizmente, algumas vozes de bom senso para lembrar que os exemplos dados em favor do comércio eletrônico são sempre os mesmos — Amazon, Yahoo!- e que a expansão da bolha financeira deixa muito inquietas a mídia especializada e as autoridades americanas. Numa análise lúcida, André Gauron [2] lembra a este respeito que o caso americano não é extrapolável, já que o dolar, moeda interna, é também uma moeda de pagamento internacional.
Assim, sob a cobertura de uma leitura redutora das análises de Castells, as teses da “nova economia” servem de cavalo de batalha para o “capitalismo informacional”, última metamorfose do liberalismo depois do AMI (Acordo Multilateral sobre Investimentos) e das pretensões fracassadas de Seattle. Convém não apenas denunciar mais esta impostura mas, além disso, propor soluções alternativas. Tudo com a ambição de colocar a economia a serviço do homem e de civilizar a globalização.
L’Ère de l’information , de Manuel Castells, em três volumes:
I – La Société en réseaux (400 páginas);
II – Le Pouvoir de l’identité (500 páginas);
III – Fin du millénaire (500 páginas),
Fayard, Paris,