A adoção de um sistema de endereçamento semântico que permita representar a noosfera como um cosmo matemático explorável permitiria resolver o problema da gestão dos conhecimentos, com o qual se defronta a comunidade dos pesquisadores em ciências humanas.
Coerentemente com as idéias desenvolvidas neste artigo, elaboramos, minha equipe de pesquisa e eu, o núcleo de um sistema de endereçamento semântico universal, batizado como Metalinguagem da Economia da Informação (IEML, em inglês). Essa metalinguagem responde, simultaneamente, a duas restrições. A primeira visa à abertura. Os endereços semânticos expressos em IEML podem traduzir todas as línguas naturais, classificações e teorias particulares, entre as quais nenhuma é privilegiada nem excluída pela metalinguagem. No momento em que documentos provenientes de todas as épocas e de todas as culturas alimentam a memória digital comum, o novo sistema de endereçamento dos conceitos só poderá de fato cumprir seu papel de observatório da vida intelectual se integrar e traduzir de maneira inclusiva a diversidade simbólica.
A segunda restrição que pesa sobre os endereços semânticos é de tipo matemático. A fim de explorar de maneira ótima as novas possibilidades de tratamento oferecidas pelo ciberespaço, esses endereços semânticos se prestam — muito melhor do que as expressões em línguas naturais — às operações automáticas de seleção, análise, síntese, ordenamento, avaliação, inferência e transformação, operações que podem ser combinadas e tornadas complexas à vontade por seus usuários. A comensurabilidade dos universos semânticos, a observação da noosfera e a reflexividade da inteligência coletiva no ciberespaço tornaram-se assim, pelo menos teoricamente, possíveis.
Leia mais:
Nesta edição, sobre o mesmo tema:
Os intelectuais e rede mundial do saber
Representar a natureza simbólica da mente humana, sob a forma de um cosmo de diversidade qualitativa quase infinita, mas matematicamente organizada no ciberespaço: esta tarefa conjunta poderia fornecer um come?
Pierre Lévy é diretor da cátedra de pesquisas em inteligência coletiva da Universidade de Ottawa, autor de L’Intelligence collective (La Découverte, Paris, 1994) e de Cyberdémocratie (Odile Jacob, Paris, 2002).