Quem acredita na versão oficial?
A organização ReOpen911 (Reabrir o 11 de Setembro) milita pela retomada das investigações acerca dos atentados contra as Torres Gêmeas e o Pentágono em 2001. No dia 2 de maio de 2015, a associação realizou sua assembleia geral anual. História de um dia cercado de suspeitas…Julien Brygo
Quantos de vocês acham que as torres do World Trade Center desabaram em consequência de um incêndio causado pelo impacto de aviões e acreditam na versão oficial?” Naquele 2 de maio de 2015, apenas uma mão se levantou no anfiteatro do D’Artagnan, um albergue de jovens parisiense. Cerca de setenta pessoas participavam ali da assembleia geral da associação ReOpen911, que luta pela reabertura das investigações dos atentados de 2001. O homem que fez essa pergunta, Richard Gage, exibe o título de presidente da organização norte-americana Architects and Engineers for 9/11 Truth (Arquitetos e Engenheiros pela Verdade do 11 de Setembro). Recém-desembarcado dos Estados Unidos, ele esclareceu: “Vim para dizer a verdade e separar os fatos da ficção”. Diante de um público composto na maioria por homens brancos quarentões, Gage continuou seu exame introdutório: “Quantos aqui duvidam que as torres desabaram em consequência de um incêndio causado pelo impacto de aviões?”. Dez mãos se levantaram. A pergunta final bastaria para avaliar o grau de adesão do público à tese apresentada: “Quantos aqui estão convencidos de que as torres desabaram por causa de uma demolição controlada?”.
“Por que não trouxeram seus amigos?”, indagou Gage às quarenta pessoas que levantaram a mão. “Sem dúvida porque não os têm mais depois de confessar-lhes que não acreditam muito na versão oficial!” Explosão de risos na sala. A longa demonstração de Gage, precedida pela aura de suas “quatrocentas conferências proferidas em 84 cidades norte-americanas e 35 países”, já podia começar. Consistiu em nada menos que duas horas de uma exposição em PowerPoint durante a qual o público, conquistado, se viu submetido dezenas e dezenas de vezes à mesma imagem: os arranha-céus caindo de maneira totalmente simétrica, na vertical. Sinal evidente, para nosso especialista, daquilo que ele chamou de “demolição controlada”. “Na última vez em que um jornalista me entrevistou”, relata Arnaud,1 um profissional de informática desempregado, “fui sondado sobre o que pensava do fato de Elvis Presley estar numa ilha deserta com Marilyn Monroe”. Para esse jovem na casa dos 30 que se ocupa do site da associação, o objetivo do evento era transmitir a ideia de que “há dúvidas” e a versão oficial “não as dissipa”. Sébastien, um recepcionista improvisado que traduz e faz as legendas dos filmes divulgados pela ReOpen911, esclarece o que pensa: “Não digo que os responsáveis foram os norte-americanos ou o Mossad; digo apenas que não acredito na versão oficial. Há sem dúvida inúmeros conspiracionistas nesta associação. Mas há também, e são muitos, os que apenas formulam dúvidas sobre as incoerências óbvias do relatório oficial. A maioria dos membros se inquieta sobretudo por causa da impossibilidade de um debate público. Vejam Mathieu Kassovitz, Marion Cotillard…2 O 11 de Setembro é um dogma”. Sébastien não tardou a evocar Alain Soral, “o idiota útil a quem somos frequentemente comparados e que estragou tudo acrescentando no fim a palavra ‘judeu’”.3 Outros se mostraram indignados com as últimas falas de Caroline Fourest, Pierre-André Taguieff e Gérald Bronner, considerados seus principais detratores, ou ainda com o último livro de Philippe Val, ex-diretor do Charlie Hebdo e do France Inter, segundo eles um dos personagens públicos mais contrários ao questionamento da versão oficial.
Paixão pela demolição de imóveis
Os membros da ReOpen911 tinham cada qual sua explicação para o fenômeno, mas partilhavam uma mesma paixão: contemplar infindavelmente as imagens daqueles prédios caindo verticalmente – que, a seu ver, não poderiam cair assim. Para apoiar essa tese, o sumo sacerdote do 11 de Setembro convocou sucessivamente os bombeiros e sua reação no momento, os transeuntes e seus comentários ao vivo, as comparações com outros imóveis dinamitados e especialistas do mundo inteiro para explicar que foi encontrada termita, um explosivo poderoso, entre os escombros. Utilizando um sistema de dez critérios – da “destruição súbita no nível do impacto dos aviões” à “presença de ferro fundido e microesferas de ferro”, passando pelas “ejeções laterais de vigas de aço a 180 metros e 95 quilômetros por hora” –, o conferencista explicou, de caneta laser na mão, que “nenhum avião é capaz de derrubar 100 mil toneladas de estruturas de aço”. Ainda que ninguém soubesse quase nada a respeito, o choque das imagens bastou para imprimir no espírito de cada um a certeza de que “esconderam de nós a verdade”.
Cumpre dizer que a história às vezes dá razão aos partidários da teoria da conspiração. Arnaud, que se diz de boca cheia “esquerdista”, invocou o historiador progressista norte-americano Howard Zinn e seu trabalho – hoje acatado por todos – de desconstrução da Guerra do Vietnã (“o ataque, com bandeira falsa, a um navio norte-americano ao largo de Tonquim”). O ataque ao contratorpedeiro USS Madox, em 1964, que provocou a Guerra do Vietnã, não foi desfechado por torpedeiros norte-vietnamitas, mas por barcos sul-vietnamitas, aliados dos Estados Unidos. O presidente da ReOpen911 na França, um jovem que diz se chamar Lixi, citou “os policiais envolvidos nas manifestações para provocar confusão e poder prender os manifestantes. Se isso não for conspiração, então o que é?”. No anfiteatro, Gage procurou voltar aos “fatos”. Desenhos dos destroços, exames das vigas de aço, análise da poeira, revisão da simetria das quedas. “Foi só”, lamentou Sébastien, um pouco decepcionado com a conferência. “Infelizmente, falou-se apenas nas três torres, quando há muita coisa a dizer: os delitos dos donos de ações, as relações entre as famílias Bush e Bin Laden, o atentado contra o Pentágono…”.
Entre o público, embora essas observações tecnoarquitetônicas aparentemente impressionassem, foi a sequência que, sobretudo, selou a crença no autoataque norte-americano: “As guerras que vieram depois custaram de US$ 2 a 3 trilhões. Os meios de comunicação, que se recusam a reabrir o caso, estão a serviço das indústrias de armas, dos bancos, das companhias de seguros e de petróleo, setores que se beneficiaram largamente do 11 de Setembro”, ouviu-se no palco. “Noventa por cento dos meios de comunicação estão nas mãos de seis empresas. Eles têm um programa, um plano que não é o nosso! Nós devemos nos tornar meios de comunicação”, desafiou Gage sob uma chuva de aplausos, antes de pedir ao público que depositasse “seus euros” numa caixinha que circulava pela sala. Objetivo: coletar centenas de milhares de dólares para financiar uma “investigação independente sobre a queda da torre 7 do World Trade Center”.
Julien Brygo é jornalista.