Reflexões sobre a posse do novo governo em Porto Alegre
A posse do novo governo, com José Fortunati, significa que o eleitor de Porto Alegre continua sendo de esquerda?Jorge Barcellos
A posse de José Fortunati (PDT) na Câmara Municipal no último dia primeiro, sacramentou não só a derrota do Partido dos Trabalhadores, mas da própria esquerda em Porto Alegre. O período entre as eleições e a posse foi, para o candidato vitorioso, marcado pelo grande esforço em finalizar as alianças politicas que lhe darão amplo poder de agenda na Câmara Municipal. E conseguiu o maior feito pós-eleitoral, atraindo os candidatos da oposição Wanfred di Lorenzo (PSDB) e Jocelim Azambuja(PSL) para o governo e, na Câmara Municipal, o PSD, partido que também era oposição ao governo José Fortunati, que entrou para a base de apoio. A oposição no legislativo ficou reduzida ao PT,PSOL e PCdoB, que poderão fazer um barulho danado, mas pouca força terão para implementar, medidas de maior peso como CPIs, por exemplo.
A verdade é que os candidatos derrotados, Adão Villaverde(PT) e Manuela, sairam muito rapido da cena eleitoral, com um período de reflexões breve sobre as causas da derrota, que seguiu-se a aceitação e a eleição de novos planos. Para quem é de esquerda, ainda é cedo para esquecer os 9,64%, número que ficará gravado na consciência do Partido dos Trabalhadores de Porto Alegre. É quanto atingiu o candidato do PT, Adão Villaverde nas eleições da capital. A outrora “vitrine” do Partido dos Trabalhadores, sede do Fórum Social Mundial e lugar de lideranças expressivas como Raul Pont e Olivio Dutra chega ao fundo do poço, descendo em queda livre de 30% do eleitorado para menos de 10%. O PT municipal chegou a ensaiar uma reflexão, promovida por Adeli Sell, mas não teve grande repercussão na capital. E olha que ainda é viva a memória das avaliações que começaram cedo na capital naquele domingo, dia de eleições. Quem acompanhava a cobertura jornalística pelos meios de comunicação podia ver o consenso dos cientistas políticos de plantão: o dado era a prova de que uma esquerda desunida não vence eleição. José Fortunati, do PDT, venceu porque reuniu nove partidos de centro-direita e 245 candidatos, transformando o horário eleitoral no seu latifúndio. O problema é que o conservadorismo de uma aliança com do PP ao DEM era imitada pela esquerda, para ira dos radicais, basta olhar quem ocupava os cargos de vice: no PT, Arlindo Bonele, filiado ao PR e candidato primeira vez, era vice de Villaverde e Nelcir Tessaro, do PSD, em Porto Alegre, era vice de Manuela. Por outro lado, ambos candidatos a prefeito eram marcados pela sua imagem, ou ausência dela. Enquanto que Villaverde era praticamente desconhecido do grande público, Manuela era conhecida por ser “a menininha bonitinha da classe média”.Ambos não convenceram na estratégia que adotaram em relação a legenda: o primeiro tentou mostrar desesperadamente que representava a união do PT; a segunda, tentou desesperadamente esconder que era do PCdoB.
A posse do novo governo, com José Fortunati, significa que o eleitor de Porto Alegre continua sendo de esquerda? Para Paulo Moura, cientista político da capital sim, “mas largou o PT e está buscando outros nomes”. Para mim o perigo é que esteja em andamento um processo de centro-direitização da capital. Na minha opinião, o que resta da esquerda na capital está no PT, e o resto, está debandando para o PSOL e o PSTU, cujas lideranças, Roberto Robaima e Erico Correa apresentaram um discurso defendendo a ideologia de esquerda e os movimento sociais. O primeiro vem mantendo uma distância considerável do segundo, buscando se identificar, com seu corpo de vereadores, principalmente Pedro Ruas e Fernanda Melchiona, como uma esquerda autêntica – são elogiados até pelo mais respeitado e decano dos vereadores do legislativo, João Dib (PP), (ZH, 5/1/2013) enquanto que o segundo é visto como uma esquerda tipo cortina de ferro – o que é verdade. Pedro Ruas, o vereador do PSOL com maior número de votos, desponta como novo ícone da esquerda na capital, buscando com seu discurso ocupar no imaginário de esquerda o lugar do PT e se o PT não se mexer, será talvez o candidato que possa enfrentar José Fortunati. Mas para mim é um erro do PSOL criticar duramente o PT, seu antigo aliado, pois fomenta uma cisão na esquerda que ainda não sabemos as consequências para as próximas eleições. Por tudo isto o PT inicia 2013 na capital amargando a redução de vocações competentes na defesa da cidade, Adeli Sell e Maria Celeste, que não conseguiram se reeleger porque o partido ficou refém dos efeitos do julgamento do mensalão, mantendo apenas como destaque, Sofia Cavedon, um dos poucos novos nomes que resta ao PT local, porque soube dar respostas a questão da educação, para parafresear a campanha de um veículo de comunicação gaúcho.
Que aconteceu com o PT, se questionam seus mais antigos militantes? A imagem que me vem a mente é que o PT de Porto Alegre é vitima de uma maldição, como no filme Piratas do Caribe, o Baú da Morte. No filme, Johnny Depp é o Capitão Jack Sparrow, capitão do Pérola Negra e Bill Nighy é Davy Dones, capitão do Holandes Voador. Dones já foi um ser humano, mas sem suportar a perda de seu amor, arrancou seu coração e o colocou no Baú da Morte, transformando-se numa criatura bizarra. Hoje, o PT da capital é o novo Holandês Voador, um partido condenado a vagar pelo mar da política como o veleiro que navega contra o tempo. Como Dones, sofre por sua perda, a cidade de Porto Alegre, que mais uma vez negou-lhe, ao dar posse a José Fortunati, o seu amor. Porto Alegre é a Calipso do PT – personagem interpretada por Naomi Harris – a quem precisa reencontrar para superar sua maldição. É disso que se trata: do que fazer agora, ao longo do próximo governo para retomar o gozo dos momentos de outrora.
Só porque Fortunati tomou posse não acredito que seja hora de encerrar as reflexões sobre as razões sobre as razões que o levaram ao poder na capital, ao contrário. Claro, os argumentos já são conhecidos: a excelente campanha do candidato conservador, as obras em andamento, a “música-chiclete”, a fragilidade do candidato petista, a falta de recursos do PCdoB e erros das campanhas da esquerda. Mas como na piada do Monty Phyton, tirando tudo isso, o que foi que REALMENTEgarantiu a vitória esmagadora da centro direita na capita?. Arrisco uma hipótese que não foi em nenhum momento formulada: a vitória pedetista deve-se a algo que estava diante do nariz da esquerda durante todo o tempo, em destaque na sede da campanha do PDT, na Avenida João Pessoa, no antigo cinema Avenida: na imensa faixa podia-se ler em grandes letras o mote repetido a exaustão na campanha: “Por amor a Porto Alegre”.
O discurso do“Amor à Porto Alegre” é uma construção simbólica imersa na ideologia que em nenhum momento foi criticada pelo PT. Fortunati não diz “Eu amo TODOS vocês” – a humanidade -mas seleciona um ponto de vista que diz “Eu amo você- a capital – ACIMA de qualquer coisa”. O PT foi incapaz de responder a este discurso o que seria feito com uma crítica veemente ao seu discurso como contrário ao ideal de solidariedade mundial, contrário a luta contra as desigualdades no planeta e as heranças do Fórum Social Mundial, etc, etc. O PT foi incapaz de reagir a um discurso quedizia que não existe nada ALÉM de Porto Alegre!. É claro que todos gostam da cidade como tudo mundo, etc, etc, mas isto émanipulação grosseira do sentimento de “proxemia” definido por Michel Maffesoli, o sociologo francês autor de “O tribalismo” como o sentimento natural que todos sentem pelo lugar em que nascem em qualquer lugar do planeta. Isto não tem nada a ver com política, é antropologia pura e nada mais. Fortunati é o Jack Sparrow do PT, ele encontrou o Baú da Morte e tocou o coração da cidade.
É claro que tem as razões políticas, mas para mim são outras. Saindo do imaginário e indo para a política propriamente dita, entendo que Fortunati conseguiu a vitória porque fez em sua campanha o que Hobsbawn, recentemente falecido, queria que o seu Partido Trabalhista inglês fizesse nos anos 70: transformou sua gestão um projeto popular; convenceu as pessoas de que elas queriam o que o PDT representava; mostrou que a política do PDT não era apenas desejável, mas realista; que o PDT representava efetivamente todos os porto-alegrenses e que o PDT ainda tem futuro na capital. Tudo o que deveria ser feito pelo PT!. O efeito foi perverso para o partido, que perdeu excelentes vereadores e chegou no fundo do poço em termos de eleitorado.
A analogia do amor individual para o amor na política tem consideráveis conseqüências. Como se sabe, ela é tributária do idealismo e produz uma subversão, ela introduz na política certo sentimentalismo,transformando o campo político(Bourdieu) numa espécie de“garotão sentimental”.Estratégia “transpolitica” fatal (Baudrillard), o PT não se deu conta de que esse “eu-te-amo” pedetista,que se dirige ao Outro, a Cidade, era sua forma de colocar seu candidato e seu partido em pé de igualdade e frente a frente com os cidadãos – exercício notável no qual o poder desce até a pessoa com o objetivo de “ligá-la pela palavra” (Zizek). Quer dizer, o que o PT não se deu conta é da força do simbólico nesta eleição: na política, a dimensão intersubjetiva da palavra importa. O PDT soube tirar partido dos espaços vazios deixados pelo PT no imaginário da capital: o problema não é que o PDT tirou o PT da política real, o problema é que ele quer tomar seu lugar no campo simbólico.
A Psicanálise já tinha explicado do que se trata: é sempre o problema da relação com o Outro que define o que somos e o que fazemos, é sempre o modo como as coisas funcionam no simbólico que determinam o plano real, isto é, o discurso político-amoroso do PDT recuperou uma função de base da esfera política ao estabelecer uma ligação primordial com o público.Foi assim que o PDT renasce das cinzas e o PT perde cada vez mais poder politico na capital. O discurso petista estava mais para um amour flou (amor vago) enquanto que o discurso pedestista estava mais para um amour fou (amor louco). Diz Finkielkraut & Brucknerem A nova desordem amorosa (Brasiliense) que “signos vazios veiculam a plenitude de uma responsabilidade”. É verdade, quer dizer, eles tem o poder de afetar os seres a que se dirigem para transformá-los em parceiros. O PT, por seu lado, afastado do governo local, das universidades, da periferia, na condição de oposição perdido em meio a uma disputa com o PSOL pelo espaço de esquerda, o que disse à cidade esses anos todos? Sua oposição foi atuante, mas incapaz de montar uma estratégia de união das esquerdas. Por esta razão, ao dirigir-se com um singelo “Eu-te-amo”a Porto Alegre, o PDT a dominou porque deu a ela a suapalavra, e assim, obrigou-a a devolve-la – pelo voto. O seu “Eu-te-amo”, como diz Finkielkraut & Bruckner tornou a cidade sua devedora, estabeleceu a exigência de um imperativo “Me ame. É preciso que você pague sua dívida”. Essa falha no simbólico só é expiada pela reciprocidade e voilá, Fortunati assume como Prefeito. A leitura lacanomarxista é inspirada no própro depoimento de Adão Villaverde, que em entrevista a Zero Hora (9/10), que usou a expressão “O PT no divã”, significando que, a partir de agora, o partido necessita fazer uma auto-análise. Mas quem disse que auto-análise terminou?
Mas há outro aspecto de politica de massa envolvido. É essa incapacidade da esquerda em reagir ao desvio à centro direita promovida pelo PDT, e que é promovida pela transformação do PDT no mais novo partido catch all, expressão criada por Otto Kirchheimer para designar os partidos que reduzem sua carga ideológica e reforçam suas lideranças – como o caso de Fortunati, que desponta como candidato ao governo do Estado. Quer dizer, o PDT pode ter ganhado a Prefeitura, mas e o que ele perdeu em termos de ideologia? Logo ele, que se reivindicava, como Alceu Collares, sua maior liderança, ainda o faz, como um autêntico partido de esquerda. Na minha opinião, a Porto Alegre e sua classe média de esquerda das ruas preocupada com o social cede à Porto Alegre de classe média de centro-direita dos shoppings centers preocupada com o individual: nasce a politica da era da geração shopping-center. Diz Manuela que o democrático é foi que houve uma opção. É claro que sim, aliás, vivemos mais do que a democracia, vivemos, como assinala Slavoj Zizek, tempos “pós-democráticos”: eleições livres, soberanas, transparentes, parlamento atuante, participação da sociedade no legislativo, etc, etc, podemos votar em quem quisermos, mas o que revela esta legitima opção? Para mim, ao contrário, as eleições mostraram um processo galopante de despolitização dos cidadãos, vista pela ausência de bandeiras nas ruas, o abandono dos ideais de esquerda, o fim da militância autêntica de rua, o debate morno às vesperas das eleições e esquecimento da agenda proposta pelo FSM. A nova questão politica é justamente, o que fazer após a democracia, que agenda politica moverá os seus cidadãos?
É duro para quem é simpatizante do PT ver uma multidão dar uma guinada a centro-direita. Para quem como eu viveu os anos 80, o resultado é democratico, mas é duro. Nós, os “da antiga”, eleitores do PT há trinta anos, nos perguntamos sobre as estratégias que as lideranças locais vão adotar para o futuro do partido. Que avaliação faz o PT de sí mesmo nesse periodo em que esteve fora do Executivo? Se deu conta que o racha com as demais esquerdas assentadas na Câmara Municipal dominou a possibilidade de apresentar um contra-discurso à administração do PDT? Será que os petistas se deram conta de que o partido cedeu tradicionais espaços onde exercia a hegemonia para os partidos de centro-direita, seja na universidade e nos espaços na periferia onde seu governo deu inúmeras conquistas? Será que se deu conta do atraso que é romper com os demais partidos de esquerda? Minha resposta é não.
Por outro lado, o PT não foi capaz de mostrar ao seu eleitor o caminho que o PDT estava traçando, que de um partido de esquerda à centro-direita do espectro político. Caminho que é seu direito fazer, e a critica a esquerda – a minha entre elas – faz parte deste jogo politico. Claro, num contexto repressivo à esquerda, principalmente em função do mensalão, o cidadão terminou por identificar o PT local ao PT nacionaldando uma vitória também à mídia conservadora. Para mim, o partido perde o eleitorado que perdeuporque no sul, em primeiro lugar, o aspecto ideológico conta muito para o eleitor.
A vitória esmagadora da candidatura José Fortunati (PDT) coloca a questão: como refundar o PT na capital? Fortunati e o PT sabem que o primeiro venceu legitimamente a batalha, mas ainda não venceu a guerra. Para Fortunati se credenciar definitivamente como a nova liderança pedetista para uma disputa de nivel estadual – e com isso vingar-se do PT que o abandonou no passado – sabe que terá que sair vitorioso no teste final que tem pela frente: a Copa do Mundo . A segunda batalha está em andamento, a da reforma do secretariado. O primeiro escalão já foi definido na partilha entre os apoiadores, faltando agora decidir os vice-secretários.E já está dando dor de cabeça ao Prefeito: além do vereador Idenir Cecchin (PMDB) recursar uma secretaria, impedindo assim que Pablo Mendes Ribeiro (PMDB), filho do Ministro, assumisse como vereador, é João Bosco Vaz (PDT) que quer abandonar o secretariado (ZH, 5/1/2013). Para mim sempre foi um erro entregar as secretarias a base de sustentação, privando os funcionários técnicos e experientes de carreira assumirem o lugar – só o tempo que o secretario leva para aprender suas funções já é um problema. Isso deve servir de lição ao PT, que precisa dar-se conta de que o modelo pragmático de alianças que hoje dá vitória a José Fortunati está com os dias contados: cada vez mais o novo problema político será – tanto para Fortunati como para Jairo Jorge, vitorioso petista em Canoas, cidade da região metropolitana – o de como acomodar tanta gente da qual se tem pouco controle no governo. E aí, conflitos inevitáveis já começaram no dia primeiro para Fortunati, que sofre dores de cabeça com o risco que sofre do fracasso de alcançar as metas que se propõem.
Para refundar o PT, sou um dinossauro: acredito que somente o retorno à defesa de sua ideologia de esquerda original fortalecerão sua identidade. Isto serve também para o PDT, que ficou muito mais próximo de seus ideais quando resolveu o problema de Sara, 5 anos, e de outas 460 crianças que haviam ficado sem lugar para apresentar-se no final de ano por culpa da burocracia da Prefeitura. A noticia havia comovido a cidade, mas espírito de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola baixou por breves instantes no coração do Prefeito e o problema foi resolvido. Sejamos honestos: é que é sempre ela, a ideologia, é que deve definir de forma mais rigorosa o que fazer, seja para a esquerda ou para a direita. Para a esquerda, deve ser o balizador do leque de alianças que deseja o PT, cujo efeito é atrair para seus quadros as novas gerações e dando a chance da capital ter, no futuro,disputas políticas mais eletrizantes do que a que tivemos agora. Para mim o PDT sofre um processo de desideologização e isso não pode ocorrer no PT. Pela primeira vez, o PT encontra-se na encruzilhada: ele precisa escolher entre continuar no caminho de ser um partido comum, onde fatalmente desaparecerá, ou de se reinventar de forma radical.A ideologia de esquerda é como o coração de Dones: assim como ele o tornava humano,só a ideologia fará o PT ser um partido de verdade. Mostrar a defesa da identidade genuína de um partido de esquerda é a única forma de reconquistar o amor das novas geraçõeseúnica chance o tirar o partido da condição de novo Holandês Voador em que se encontra
Fortunati teve sucesso na sua estratégia de sedução politica e agora o PTamarga mais uma vez o fim de sua era na capital se não fizer nada. Ao seu lado, paradoxalmente, está o próprio mote da campanha de Fortunati. É que e a vontade de amar é também a vontade de um desenlance: “Eu-te- amo” e “Vamos-acabar”são os dois lados da mesma moeda. No fundo, no fundo, o PT da capital ainda pode esconder um sorriso de Monalisa, pois como na relação amorosa, o que a Cidade não sabe é qualquer relação/eleição é uma relação com o desconhecido e mesmo Fortunati, deve ter, no fundo no fundo, ao subir as escadarias da Prefeitura ao tomar posse de seu cargo, um medo que só se expressa na forma interrogativa: “Me ama realmente?”
Se o projeto pedetista falhar, maiores são as chances de nascimento de um antipedetismo. Esseparece ser o confronto da esqueda em a partir de agora. O que resta da esquerdização da cidade hoje em dia? Aquilo que definir o cidadão: a cidade pertence, em primeiro lugar a eles. O PDT, teve sucesso em estabelecer uma nova ordem política, um novo “dominus mundi” na capital. Mas mante-lo não será tarefa fácil. O PT precisa perguntar-sequem e o que o PDT venceu nestas eleições. Para mim, o PDT venceu uma razão para viver que tinha tomado conta da capital, tirou sua nostalgia em defesa da humanidade, esse delírio suave e violento de encarnar o ideal de luta pelos oprimidos, ideal de esquerda tornado liquefeito pela própria esquerda. Estranha a cultura política que toma conta da capital, que faz o “amor a Porto Alegre” “o amor – APENAS -por Porto Alegre” um discurso vitorioso, encantador, mas problemático,nova forma de desconstrução de um discurso de solidariedade planetária, elemento de base da cultura política da esquerda. Quiçá Fortunati possa fazer um bom governo para benefício dos cidadãos e fortalecer o que resta de ideologia de esquerda no PDT, abrindo mão daqueles apoios que o desmerecem. Quiçá o PT possa reconstruir a sua trajetória na capital, recompondo a aliança de esquerda dos partidos locais para as próximas disputas, é tudo o que podemos esperar dos tempos que hão por vir.
Jorge Barcellos é Historiador, Doutorando em Educação/UFRGS. Mantém o blog filosofiafrancesacontemporan.blogspot.com