Riqueza de Elon Musk cresceu 737% desde o início da pandemia
Dono do X, antigo Twitter, é um dos cinco homens mais ricos do mundo, que dobraram suas riquezas desde março de 2020. No mesmo período, cinco bilhões de pessoas ficaram mais pobres
Em 18 de março de 2020, o empresário sul-africano Elon Musk tinha um patrimônio acumulado de 24,6 bilhões de dólares americanos. O fundador da empresa de exploração espacial SpaceX e CEO da montadora de carros elétricos Tesla comprou a rede social Twitter, agora X, em outubro de 2022 por 44 bilhões de dólares. Um ano depois, informações de The Verge mostram que a própria empresa se avaliava como valendo US$ 19 bilhões, 55% a menos do que quando Musk a comprou.

Mesmo com as idas e vindas nos negócios do bilionário, sua fortuna cresceu 737% entre março de 2020 e novembro de 2023, como aponta o relatório Desigualdade S.A., da Oxfam. O enriquecimento vertiginoso de Musk não é um acontecimento isolado: a riqueza combinada dos cinco homens mais ricos do mundo dobrou desde que a pandemia de Covid-19 começou. Bernard Arnault e sua família, da holding de bens de luxo LVHM, Jeff Bezos, da Amazon, Larry Ellison, da Oracle, e o megainvestidor Warren Buffett tiveram, juntos, uma variação real de 114% em seus patrimônios.
O relatório da Oxfam, divulgado na última segunda-feira (15), chega junto do encontro do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, que reúne grandes líderes e cabeças da economia mundial.
Enquanto os últimos anos foram excelentes para alguns poucos (a fortuna dos cinco mais ricos cresceu a um ritmo de 14 milhões de dólares por hora), quase 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres, sentindo a crise econômica na pele. Segundo o relatório da Oxfam, os salários de cerca de 800 milhões de trabalhadores e trabalhadoras não acompanharam a inflação, fazendo esse grupo perder US$ 1,5 trilhão durante os últimos dois anos. É como se cada trabalhador perdesse 25 dias, quase um mês inteiro, de salário.
Os trabalhadores perderam 1,5 trilhão de dólares, mas as 148 maiores empresas do mundo lucraram US$ 1,8 trilhão. No caso das 96 maiores companhias privadas, 82% desses lucros foram compartilhados com os acionistas mais ricos, não com os trabalhadores assalariados. Entre as dez maiores empresas do mundo, sete tem um bilionário como CEO, presidente ou principal acionista.
Esses dados não dizem só respeito à realidade dos países mais ricos, do Norte global. A Oxfam Brasil mostra que quatro dos cinco bilionários mais ricos do Brasil aumentaram seus patrimônios em 51% desde o início da pandemia. Enquanto eles dobravam sua riqueza, 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres, aumentando o vão da desigualdade de renda no país.
Katia Maia, a diretora executiva da Oxfam Brasil, afirma em comunicado que a desigualdade de renda brasileira “anda em paralelo com a desigualdade racial e de gênero – nossos super-ricos são quase todos homens e brancos”. A renda das pessoas brancas brasileiras é, em média, 70% maior do que a de pessoas negras.
No relatório Desigualdade S.A., a Oxfam sugere a redução da desigualdade para um nível onde os 40% mais pobres detenham a mesma renda dos 10% mais ricos, de acordo com ideia proposta pelo Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Hoje, 50% dos ativos financeiros mundiais são controlados pelo 1% mais rico. No Brasil, a situação é pior: são 60% dos ativos. O problema da desigualdade de renda, se deixado do jeito que está, continuará seguindo o roteiro dos últimos 3 anos: enquanto o planeta sofre em crise, os mais ricos conseguem ficar mais ricos ainda.
Eduardo Lima faz parte da equipe do Le Monde Diplomatique Brasil.
Há quem tenha habilidade para ajuntar grandes riquezas. Mas se governo existe para aparar as arestas da brutalidade humana, como ser permitido com tais habilidades se apossem das riquezas que a todos devem servir? Não lembra o velho Marx e a necessidade de mudar o mundo?