Rumo ao bolsonarismo sem Bolsonaro?
Os resultados do primeiro turno das eleições, para desânimo de muitos do progressismo, evidenciaram o que agora parece tão óbvio: o bolsonarismo pode e deverá continuar após Bolsonaro. E isso é possível justamente porque o bolsonarismo é a versão atual – neoliberal e necropolítica – do “fascismo eterno” brasileiro, mácula constitutiva de nossa sociedade
O primeiro turno das eleições de 2022 escancarou o óbvio: o Brasil é um país profundamente conservador. Esse conservadorismo tem tintas reacionárias bastante evidentes, pois o repúdio às chamadas “pautas progressistas” – como a equidade de gênero, o combate ao racismo e a preservação ambiental – é marcado por valores que não apenas pretendem conservar o que existe, mas também idealizam a volta a modelos de sociedade de períodos reconhecidamente violentos do passado nacional, como a ditadura militar e o Brasil Império. O Brasil é, de fato, uma “geleia geral”, como cantaram os tropicalistas, país extremamente complexo com sua mescla de povos, crenças e éticas. Mas essa composição não corresponde à mestiçagem benévola descrita por Gilberto Freyre, tampouco gerou a sociedade inclusiva, acolhedora e harmônica que tantos e tantas esperavam. O Brasil de hoje é o retrato cru e cruel de suas assimetrias e conflitos e dos séculos de coexistência…