Simulações indicam que confinamento deve ser máximo
Simulador de longo prazo prevê novos surtos da pandemia. Ferramenta está disponível online e pode ser usada livremente por quem quiser
Nós, pesquisadores da Universidade Federal do ABC e da Universidade de Bristol, desenvolvemos um modelo complexo e robusto (mas simples de usar) que simula a disseminação do Covid-19 na sociedade. Ele mostra que é bem provável que teremos novos ciclos de surto e confinamento.
A ferramenta está disponível on-line e pode ser abastecida livremente por usuários para simular diferentes contextos, usando parâmetros como densidade populacional, imunidade, capacidade e janela de transmissão, entre outros.
O software foi adaptado de um modelo desenvolvido em 1998 que simula a disseminação do vírus da gripe, agora reprogramado com as condições conhecidas do novo “super vírus”.
Nosso software é de código aberto para uso público e serve tanto para fins educacionais e de pesquisa, como pode ser utilizado, ainda que de forma cautelosa, como ferramenta para a tomada de decisões.
As nossas análises apontam que sob determinadas condições, como o grau de confinamento das pessoas, reintrodução do vírus no ambiente e imunidade ou mutação das cepas, o coronavírus pode perpetuar-se, levando a surtos de epidemia recorrentes por tempo indeterminado, o que levaria a população a novos períodos de confinamento e a impactos econômicos ainda mais profundos até a criação e popularização de vacinas e outros tratamentos.
Segundo nosso modelo, a saída da quarentena e do isolamento nos países também será um fator decisivo, pois fazer isso antecipadamente pode reiniciar um processo agudo de contaminação.
Além disso, todos os casos simulados reforçam a eficácia da estratégia de confinamento máximo, extremo, como a melhor forma de achatar a curva de dispersão do vírus, com eficácia mais garantida para cenários em que o isolamento passa de 90% da população. Caso não haja confinamento e todos voltem à rotina normalmente, como quer o nosso presidente e parte da elite econômica, a contaminação pelo vírus pode até declinar em um período de tempo mais curto (por conta da imunização da grande maioria das pessoas), mas isso se dará ao custo de milhares ou até milhões de mortes. O recado genocida parece ter racionalidade econômica mas considera um falso trade off entre salvar milhares ou até milhões de vidas ou salvar o sistema.
O capitalismo, porém, nunca mais será o mesmo após uma pandemia dessas proporções, além dos impactos sociais evidentes, a previsão atual de quedas drásticas nos PIBs dos países desenvolvidos, algo que pode chegar até a 18% no próximo trimestre, já está colocando o sistema em xeque!
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Os pesquisadores desenvolveram a plataforma de maneira independente e agora buscam financiamento de agências de fomento à pesquisa para ampliar as variáveis e envolver especialistas de outras áreas, quem quiser colaborar entrar em contato clicando aqui. Leia o estudo completo clicando aqui
José Paulo Guedes Pinto é economista e professor da UFABC; Patrícia Camargo Magalhães é física e pós-doutoranda na Universidade de Bristol; Carlos da Silva dos Santos é cientista da computação e professor da UFABC; e Júlia Reis é consultora de comunicação.