Síria, ano I após a ditadura
Todas as guerras terminam um dia. O conflito que devastou a Síria desde 2011 teve um desfecho provisório com a queda de um regime que estava no poder desde 1969. Embora a Turquia tenha se destacado como a grande vencedora dessa transformação, surgem questões sobre a passividade dos apoiadores internacionais do regime deposto, especialmente Rússia e Irã. Reivindicando um reposicionamento ideológico, o novo governo em Damasco precisará provar que rompeu definitivamente com o jihadismo, sob o risco de fortalecer organizações mais radicais, como a Organização do Estado Islâmico (OEI)
“Que Deus seja louvado, o tirano fugiu!” Na noite de 7 para 8 de dezembro, o boato se espalhou pelas redes sociais árabes antes mesmo de a informação ser confirmada por autoridades sírias. O presidente Bashar al-Assad deixou o país para um destino desconhecido – mais tarde, soube-se que ele havia se exilado, mais ou menos voluntariamente, em Moscou. Durante algumas horas, a prudência e o ceticismo competiram com a euforia, mesmo com imagens já circulando, mostrando a progressão triunfal de soldados do Exército Nacional Sírio (ENS) – uma das duas grandes organizações envolvidas na derrubada de Al-Assad, juntamente com o Hayat Tahrir al-Sham (HTS, Organização de Libertação do Levante) – pelos subúrbios da capital. A incerteza logo foi dissipada. Após 24 anos e meio de governo implacável para com seus opositores, o sucessor de seu pai, Hafez – presidente de 1971 a 2000 –, fugiu, para a surpresa quase…