Subordinadas ainda somos todas as mulheres
A autonomia econômica das mulheres exige um pacto coletivo que não estava firmado quando o vírus nos pôs em casa com nossos núcleos familiares. É no caos surgido durante a pandemia que se observa que não há caminho possível para evitar futuras crises do cuidado e promover a verdadeira autonomia econômica das mulheres se o lugar do cuidado não for de todos
Se tudo nos soava inédito diante da confirmação de uma pandemia, em março de 2020, e da “maior crise sanitária mundial da nossa época”, como definiu e previu a Organização Mundial da Saúde (OMS) naquele momento, havia algo de fato sem precedentes de uma perspectiva de gênero ali: a maciça presença das mulheres emancipadas na dinâmica do trabalho produtivo. É dos anos 1940 para cá que se observa no país uma tendência de crescimento contínuo da taxa de participação das mulheres na força de trabalho, aquelas em idade ativa – dos 17 aos 70 anos – que estão ocupadas ou em busca de trabalho. Ao longo das pandemias e crises severas anteriores, quando nem indicadores dessa natureza existiam no país, as mulheres estavam à margem das trocas remuneradas, fosse porque viviam escravizadas ou em condições ainda análogas à escravidão – no caso das mulheres negras –, fosse porque estavam em…