Como a Tarifa Zero pode nos ajudar a combater o racismo
Como o modelo de cidade espraiada e com transportes públicos precários criou, no Brasil, algo muito próximo a um apartheid?
Uma transformação radical vem acontecendo nas grandes cidades do planeta, inclusive nas brasileiras: a substituição de uma concepção restrita de transporte pela ideia de mobilidade urbana. Dito de outra forma, a virada da mobilidade, como Mimi Sheller e John Urry batizaram o momento, nos permite relacionar os transportes urbanos não apenas com a microeconomia ou a engenharia de tráfego, mas também com tópicos estruturais de nossas sociedades, a exemplo das desigualdades e segregações – entre elas, as determinadas pelo racismo. É daí que novas soluções irrompem com a finalidade de redesenhar as políticas de transporte, o que impõe dar atenção a dilemas que, até então, não pertenciam ao campo da mobilidade urbana. A proposta da Tarifa Zero ganha força assim: da necessidade de virar ao avesso a forma como os transportes públicos são concebidos, financiados e geridos. E, nas cidades brasileiras, a mudança é mais urgente. …