Tolerância até demais
A arte contemporânea funciona da seguinte maneira: pela provocação, eu chamo o outro a me seguir, desafiando-o a ousar fazê-lo. Dessa forma, trago o outro para o meu nível, circunscrevo um lugar onde ficamos entre nós, círculo restrito de espíritos superiores, onde tudo pode ser dito. E ninguém ousa discordar
A arte contemporânea é revolucionária. Consequentemente, aqueles que não a apreciam são ou francos-reacionários, ou reacionários que ignoram sê-lo, quer dizer, neorreacionários. Tais rótulos são hoje sistematicamente colados em qualquer um que ainda ouse questionar algumas obras e práticas da arte contemporânea. Por isso, não é de se espantar que, em vez de correr o risco de ser acusado de populismo, incompetência ou estupidez, as pessoas prefiram simplesmente se calar. Você quer ser reacionário ou revolucionário? Estar do lado da modernidade ou do academicismo? Esse procedimento, que encerra qualquer debate antes mesmo de começar, tem uma eficácia notável, cujos mecanismos e objetivos certamente merecem ser elucidados – pois ele não apenas se desdobra em um certo tipo de discurso sobre a arte, como em um certo tipo de arte indissociável desse discurso, que de maneira mais ampla, também opera no vasto domínio da retórica política. O campo artístico aqui examinado…