Trieste, a fronteira sangrenta esquecida
Até o início do século XX, a Ístria era austríaca, antes de se tornar italiana e, posteriormente, iugoslava, sendo finalmente dividida entre a Eslovênia e a Croácia. É uma região de fronteiras intricadas, facilmente cruzadas pelos migrantes que acabam em Trieste. Para justificar a expulsão deles, o governo italiano instrumentaliza as vítimas da Segunda Guerra Mundial, esquecendo que a minoria eslovena (comunista ou cristã) foi amplamente perseguida
Da varanda, Paolo Rumiz deixa seus olhos passearem pelos platôs que circundam as zonas industriais do Golfo de Trieste. “Não foi o mar que despertou minha vontade de ir além, mas a fronteira tão próxima. Na época da Iugoslávia, ela se abria para um mundo estranho e desconhecido”, recorda o escritor viajante.1 Trieste é um beco sem saída no fundo do Adriático, mas é também uma porta, a cidade que os exilados atravessam a caminho do Ocidente. Na década de 1990, esse grande porto italiano viu o desfile de refugiados fugindo das guerras que devastaram a Iugoslávia. Hoje ele é uma das principais saídas da “rota dos Bálcãs” que os migrantes atravessam tentando chegar à União Europeia. “Somos experientes em receber as pessoas”, confirma Gianfranco Schiavone, presidente do Consórcio Italiano de Solidariedade (CIS), uma organização de ajuda aos exilados criada em 1993. “As chegadas duplicaram nos últimos meses. Cadastramos 15…