‘Um caminho particular do futuro’, de Ricardo Bernhard
Guiado pelas reflexões, memórias, contradições e incertezas de Francine – narradora, viúva e mãe enlutada – o leitor se vê como parte da busca da personagem em entender as decisões tomadas pelo filho em vida
O luto de um filho por si só é sempre uma pergunta sem resposta, mas em Um caminho particular do futuro, terceiro livro de Ricardo Bernhard, as indagações que acometem Francine, narradora, viúva e mãe enlutada, vão muito além das dúvidas existenciais que uma morte precoce pode causar.
Atordoada pelo falecimento de seu caçula e a procura de memórias felizes da família reunida como companhia, a personagem se muda para a antiga casa de veraneio na serra fluminense. Suas intenções iniciais com a mudança não se concretizam. As lembranças alegres que ela esperava encontrar ali se transformam na constatação de que o Cláudio que ela amava era muito diferente do homem que as pessoas do vilarejo conheciam.
É impossível conhecer alguém tão bem, mesmo um filho. Ainda mais um filho morto. Mas Um caminho particular do futuro vai além. Francine quer conhecer Cláudio talvez pela primeira vez. E, nesse processo, ela é obrigada a lidar com a perda da ilusão de controle que seu desconhecimento sobre ele representa.
Guiado pelas reflexões, memórias, contradições e incertezas de Francine, o leitor se vê como parte da busca da personagem em entender as decisões tomadas pelo filho em vida. E, mais do que isso, em desvendar a personalidade desse homem e a forma que ele entendia a empatia, a compaixão, a pureza moral e o significado e a força das palavras uma vez ditas.
Thaís Campolina é escritora, mediadora de leitura e especialista em Escrita e Criação pela Unifor. Seu livro de poesia “eu investigo qualquer coisa sem registro” (2021) foi premiado no concurso Poesia InCrível 2021. Sua próxima obra será publicada em breve pela Macabéa Edições.