Um dos sonhos de Thomas Sankara
Os progressos importantes de Burkina Faso contra a mutilação sexual feminina devem-se em grande parte à obra de um presidente que imaginou um futuro digno e livre para o paísHubert Prolongeau
Os primeiros protestos contra a excisão em Burkina Fasso, prática que existia antes da chegada do islamismo, datam do começo do século 20. Elas vinham dos pais brancos. Certos habitantes seguiam seus conselhos. As mulheres não mutiladas tinham dificuldades de encontrar um esposo e quando finalmente se casavam, eram obrigadas a fazer a excisão depois do casamento.
Nos anos 60, após a independência, o novo presidente de Alta Volta (antigo nome de Burkina Faso), Maurice Yaméogo, tentou uma campanha de sensibilização. Mas foi criticado por ter uma atitude de “branco em pele de negro”. Em 1975, Ano Internacional da Mulher, algumas delas denunciaram a prática no rádio. A hostilidade em resposta à iniciativa foi violenta.
Foi necessário esperar mais dez anos para que a mensagem fosse compreendida. Em 1985, o presidente Thomas Sankara [1] criou a Semana Internacional da Mulher e adotou uma ação inovadora: nomeou várias mulheres para o governo, motivou-as a lutar por sua emancipação, pronunciou-se contra a poligamia masculina (que regulamentou) e a excisão (que proibiu). Em maio de 1988, um seminário internacional reuniu 300 representantes do setor e originou a criação de um Comitê Provisório de Luta contra a Excisão. No dia 18 de maio de 1990, um Comitê Nacional de Luta contra a Prática da Excisão, desta fez definitivo, foi criado e a presidente de honra até hoje é Chantal Compaoré, esposa do atual chefe de Estado, Blaise Compaoré ? acusado de ter mandado assassinar seu companheiro de luta, Thomas Sankara, em outubro de 1987. Em novembro de 1996, uma lei que proibia a excisão foi adotada, prevendo sanções penais. A luta ganhou força em maio de 1997, com a criação de um secretariado permanente do CNLPE e, em maio de 2000, pela instauração de um Dia Nacional de Luta contra a Excisão, celebrado dia 18 de maio todos os anos.
Tradução: Sílvia Pedrosa