Um espelho do “desprezo pelos pobres”
Seine-Saint-Denis é o departamento da França metropolitana onde a esquerda é mais bem votada (a Nova União Popular Ecológica e Social, Nupes, venceu com folga as eleições legislativas na região). Entretanto, essa área também é a que registra o maior número de abstenções, a maior taxa de pobreza, a maior proporção de imigrantes, o maior número de moradias populares…
No momento das férias, alguns gastam fortunas para estar longe de seu país, no outro canto do mundo. Entretanto, Éric Zemmour, candidato de extrema direita à presidência da França nas eleições de abril de 2022, precisa apenas de um bilhete de metrô. Ele pode assim se dirigir, a algumas estações de Paris, a Seine-Saint-Denis, um departamento que, segundo ele, “não é mais a França”. “Há ilhas francesas”, concedeu o presidente do partido Reconquista! após os incidentes que marcaram o final da Liga dos Campeões, em Saint-Denis, em maio, “mas, para o resto, são enclaves estrangeiros”, onde se agitam “banlieusards [revolucionários dos subúrbios], ladrões, saqueadores e tutti quanti” e que “votaram por ampla margem em Jean-Luc Mélenchon” no primeiro turno da eleição presidencial de 2022.1 Para Marine Le Pen, esse departamento estaria cada vez mais “fora de controle”, seria uma “zona de não direito”, entregue às mãos da “escória”. Seine-Saint-Denis já…