Um mapa político para interpretar a Argentina pós-eleições
O processo político argentino deve ser observado a partir dos países latino-americanos que estão atravessando processos de mudança ou que vão passar por eleições democráticas no médio prazo
Os resultados das eleições legislativas na Argentina podem ser lidos como um capítulo a mais na profunda crise de hegemonia e na disputa aberta entre um projeto popular e um projeto neoliberal que atravessa o país há mais de uma década. Podemos buscar a reativação desta disputa, que é estrutural no país, na crise desatada por conta dos efeitos da grande recessão internacional e no conflito pelas retenções às exportações agropecuárias entre o governo kirchnerista e os setores de poder agroexportador no biênio 2008-2009. Tanto a conjuntura de uma crise sanitária, quanto a crise econômica decorrente do colossal endividamento[1] feito pelo governo de Mauricio Macri fizeram com que o conflito pela hegemonia alcançasse hoje o seu ponto mais intenso.
Um dos sintomas desta crise de hegemonia, que também é percebida em escala regional, é que as grandes narrativas ideológicas e as palavras com as quais se descreve o campo político estão desencontradas. Conceitos como socialismo, ditadura, justiça social ou Estado se deslocam em grande velocidade sem ancorar em significados estáveis. Reaparecem palavras de forma anacrônica no debate público, como casta[2] ou União Soviética[3]. Esta condensação de espaços, tempos e significados que parece deformar toda identidade política e que dificulta a discussão política racional nos permite fazer uma analogia com os altos índices de inflação de preços na Argentina: assim como não temos mais referências claras para saber o valor do que estamos comprando, também se perdem as referências para mapear o arco político.

Primárias
É neste contexto que aconteceram as eleições legislativas[4]. Nos dias antecedentes, a leitura da conjuntura nos mostrava quatro dados importantes. Em primeiro lugar, o governo recuperava parte da agenda e o pulso político que havia perdido antes das Primarias Abiertas, Simultáneas y Obligatorias (Paso)[5]; segundo, a atividade econômica vem se recuperando e hoje alcança níveis superiores aos de 2019 (10% de crescimento do PIB); além disso, a crise sanitária cedeu a uma campanha de vacinação que deu bons resultados e fez os contágios baixarem; e finalmente, o governo contava com uma margem de crescimento de votos em relação às Paso muito maior que a coalizão de direita Juntos por el Cambio (havia perdido mais de 4 milhões de votos em relação às eleições presidenciais de 2019) e era razoável um melhor rendimento com o aumento da participação eleitoral.
Assim, as eleições tiveram um resultado esperável: o governo diminuiu a distância em relação à oposição que teve nas primárias, principalmente, na província de Buenos Aires, o principal distrito eleitoral. Desta forma, evitou uma derrota maior e saiu fortalecido para os dois anos que sobram dessa gestão. Mas, se analisarmos os resultados em detalhe, perceberemos que o mapa político se reestruturou e as novas coordenadas podem ter consequência para as alianças futuras.
A aliança “pan-peronista” liberada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner obteve resultados históricos para eleições intermediárias em dois dos distritos mais importantes: o melhor rendimento na cidade de Buenos Aires dos últimos 30 anos e o melhor resultado na província de Buenos Aires pós-2001, onde diminuiu mais de 3 pontos percentuais em relação às Paso. Isso foi suficiente para reverter a imagem das Paso e evitar uma crise política maior. No entanto, o triunfo da retomada nos distritos chaves não pode distrair o governo da mensagem de insatisfação deixada pelas urnas. A verdade é que ele sofreu derrotas nos cinco distritos mais importantes (Buenos Aires, Córdoba, Santa Fé, Cidade de Buenos Aires e Mendoza) e inclusive em alguns que historicamente votam no peronismo (La Pampa e Santa Cruz). Em nível nacional, o governo retomou apenas 0,7% em relação às Paso, perdendo por uma diferença de 8,4%. A diferença quase não se modificou: Juntos por el Cambio terminou com 42% dos votos e a Frente de Todos com 33,6%.
Papel dos prefeitos
Podemos extrair várias conclusões desses resultados. O grosso da retomada eleitoral governista se deu na província de Buenos Aires, em particular nos sub-distritos dominados pelo peronismo tradicional e pela Frente Renovadora. Isso significa que o melhor rendimento eleitoral se explica pelo poder territorial dos prefeitos que respondem diretamente ao presidente Alberto Fernández (peronistas) e a Sergio Massa[6] (Frente Renovadora), e que o kirchnerismo apresentou uma menor contribuição eleitoral para essa redução de distâncias em relação à oposição. O mesmo acontece em províncias do Grande Norte do país, onde o peronismo tradicional pôde reivindicar vitórias importantes em Catamarca, Chaco, Formosa, La Rioja, Salta, San Juan, Santiago del Estero e Tucumán.
Isso gera mudanças e reconfigurações na correlação de forças no interior da Frente de Todos. Algo disso pôde ser notado na jornada do dia 17 de novembro, data em que se comemora o dia da militância peronista, quando todos os setores da frente governista confluíram em uma passeata até a Praça de Mayo para demonstrar unidade e apoio ao governo. Neste ato, o único orador foi Alberto Fernández, que lançou uma mensagem ao interior da aliança antecipando que para as eleições presidenciais de 2023 haverá debate e competição interna. Esse posicionamento político implica um distanciamento em relação à forma da construção da unidade que o kirchnerismo vinha propondo, que dava prioridade à verticalidade sob o axioma de que as prévias internas debilitavam a aliança. No processo eleitoral recente essa leitura falhou e, principalmente, deixou muitos prefeitos e governadores descontentes, que ganharam legitimidade após as eleições e hoje demandam mais participação na direção política.
Pelo lado da aliança Juntos por el Cambio, o grosso do triunfo eleitoral se deve ao crescimento do radicalismo[7]: das 13 províncias em que a principal aliança opositora ganhou, em dez foi decorrente, em grande medida, do poder territorial da UCR, destacando-se as do eixo Mendoza, Córdoba e Santa Fé. Na província de Buenos Aires foi essencial a nova figura do candidato a deputado Facundo Manes[8], que aportou cerca de 40% dos votos para a aliança. Isso o credencia no futuro como um ator de peso próprio e lhe dá margem de negociação tanto na interna de Juntos por el Cambio, como no interior da UCR.
O PRO[9], por sua vez, possui duas figuras que saíram fortalecidas. Em menor escala, Horacio Rodríguez Larreta, porque apesar de ter conseguido um triunfo com a estratégia de impor seus candidatos na província e na cidade de Buenos Aires, não conseguiu uma diferença eleitoral que o permitisse posicionar-se na cabeça de chapa presidencial por Juntos por el Cambio. Em maior escala, a ex-Ministra de Segurança de Macri e possível presidenciável em 2023, Patricia Bullrich, que percorreu cada uma das províncias que fizeram com que o peronismo perdesse o quórum no Senado pela primeira vez desde a redemocratização.
Frente ao mapa político que se configurou depois das eleições legislativas, a coligação Juntos por el Cambio está diante de um dilema para 2023: é o momento do radicalismo ou da radicalização pela direita. Por um lado, existe a possibilidade de aprofundar a aliança entre PRO e UCR, que hoje se mostra mais forte e bélico depois da expressiva eleição que teve Manes e o crescente peso dos dirigentes radicais nas províncias. Com essa correlação de forças, a UCR tem legitimidade para exigir uma chapa presidencial e uma potencial composição de governo que o outorgue uma maior cota de poder. Por outro lado, a principal aliança opositora poderia avançar também para uma radicalização à direita, tratando de incluir a frente Avanza Libertad, em especial Javier Milei. Isso seria factível dado que Patricia Bullrich e Milei se cumprimentam efusivamente a cada vez que se veem, que Macri o elogiou em várias oportunidades dizendo que coincide com a defesa da liberdade, e que José Luis Espert, candidato pela Avanza Libertad na província de Buenos Aires, sempre foi partidário de uma frente ampla de direita que permita confrontar o kirchnerismo. Os limites estão dados pelo comportamento midiático do próprio Milei: cada vez que pôde, proferiu insultos contra Rodríguez Larreta e ao ex-presidente e histórico dirigente radical, Ricardo Alfosín.
Javier Milei, líder dos libertários, conseguiu 17% dos votos na Cidade Autônoma de Buenos Aires, suficiente para preencher duas cadeiras na Câmara dos Deputados. Junto com o que conseguiu Espert na província de Buenos Aires, os libertários chegaram a quatro cadeiras na câmara baixa. Para compreender essa ascensão da extrema direita na Argentina, há que se observar as articulações ideológicas ligadas ao descontentamento social frente à crise que se aprofundou nos últimos dois anos; mas também é necessário entender que na conjuntura atual condensam-se múltiplas temporalidades que favorecem a interpelação libertária: primeiro, uma tendência à anti-política herdada da crise de 2001 que se mantem latente na sociedade argentina apesar de – ou devido à – repolitização dos anos do kirchnerismo; segundo, o anti-estatismo, principalmente na sua intervenção de cunho redistributivo, que surgiu no enfrentamento entre o governo e o campo em 2008; e, finalmente, as restrições de circulação, a atividade econômica e as liberdades que foram necessárias para conter a pandemia da Covid-19.
Os problemas que os governos populares vêm tendo para garantir a justiça social, sobretudo nos últimos anos, vêm gerando o clima propício para a rebelião contra a ideia de igualdade que os libertários pregam. Isso deveria ser um aprendizado para todos os partidos de centro-esquerda latino-americanos: ao não ter efeitos concretos sobre a vida dos cidadãos, as promessas de lutar contra a desigualdade podem terminar com meras narrativas vazias. Por isso a ideia de justiça social é incômoda para os libertários, que se opõem radicalmente ao igualitarismo e, com isso, posicionam-se contrários a um dos pilares da democracia tal como a entendemos. Por isso é possível ver uma tendência anti-democrática nesta nova versão da extrema direita, que se confirma quando Milei se reivindica admirador de Donald Trump e Jair Bolsonaro.
O crescimento eleitoral da extrema direita e da esquerda[10] na Argentina pode ser explicado pela dupla crise sanitária e econômica. Em certo sentido, o panorama eleitoral mostrou uma combinação da polarização política que foi crescendo desde 2008 com uma tendência à atomização eleitoral do tipo que ocorreu em 2001. Por isso as grandes alianças majoritárias puderam manter certa margem de votos, ao mesmo tempo em que as expressões políticas de menor, ou nulo, peso histórico aumentaram sua performance. O voto de castigo que se viu nas eleições argentinas não é só uma resposta aos erros e omissões do governo, mas tem um outro sentido mais profundo que é preciso decifrar. O eleitorado está buscando respostas a uma crise que já dura mais de 10 anos, um vislumbre de certeza de como se sai desta situação para uma vida melhor. Por isso o mantra “uma vacina, um voto” que os militantes governistas recitavam chocou de frente com o resultado eleitoral. A campanha de vacinação deu resultados, mas depois da pandemia, a inflação, a pobreza e a crise trabalhista seguiram gerando um clima de incerteza e insatisfação. O governo de Alberto Fernández deve então encarar aquilo para o qual foi eleito, a mesma razão pela qual Macri só durou um mandato: dar solução à crise econômica.
Uma questão central agora vai ser a batalha por uma narrativa verossímil sobre o futuro. De certa forma, a política pode ser entendida como uma disputa pelo sentido do passado e do futuro, e nesta batalha nenhuma força política argentina está conseguindo articular um discurso ou uma proposta convincente. Este é um ensinamento que as forças políticas populares latino-americanas podem extrair da experiência argentina: em um contexto de incerteza e frustração social, como o que atravessamos neste momento de múltiplas crises, uma proposta concreta sobre o futuro e a busca pelo bem-estar social é um capital político sumamente importante. Neste sentido de projeção política para o futuro que se deve compreender a insistência de Cristina Kirchner na necessidade de provocar um amplo debate sobre o que fazer com o país, qual o caminho a seguir para cada aliança política.
O problema é que, na atualidade, o dilema da macroeconomia é também o dilema das diferentes frações dentro do governo, que se sintetiza na tentativa de atravessar a estreita passagem que permita sair da crise tendo em conta os diversos interesses sem perder o controle: a obsessão exportadora de Matías Kulfas, ministro do Desenvolvimento Produtivo, como resposta às restrições externas, a rigorosidade fiscal do ministro da Economia Martín Guzmán para se chegar a um acordo sustentável com o FMI, o desejo mercado-internista de melhores salários e redistribuição da riqueza que a ala kirchnerista propõe, o paraíso da economia social dos movimentos sociais etc. Fazer tudo ao mesmo tempo demanda uma capacidade de gestão e um ajuste político que o governo atual parece não possuir. Tampouco pode ficar de braços cruzado, observando como as coisas acontecem, ou queixando-se pelos ataques da oposição. Então, o que resta é estabelecer prioridades e eleger um rumo para sair da crise. Para isso, é necessário avaliar quais atores socioeconômicos são favorecidos com cada decisão. Ao que parece, a obsessão exportadora de Kulfas está bem avaliada pelos setores econômicos concentrados, aqueles que veem o salário como um custo antes de ser um componente da demanda, precisamente porque o mercado em que eles estão interessados é o externo. Por outro lado, a rigorosidade fiscal do Ministério da Economia é elogiada pelos credores externos que esperam poder cobrar algo no final de tudo. Enquanto isso, as opções vinculadas ao aumento dos salários, a redistribuição e a economia social parecem favorecer um ator social sem muito poder lobby no mercado, mas que se expressa de forma contundente a cada dois anos: precisamente os que votam.
Este complexo debate está dado no interior do governo e, na crise política pós-Paso, isso ficou exposto, culminando num câmbio forçado de gabinete. E mesmo que essas diferenças dentro da Frente de Todos possam ser sintomas de debilidade, também podem ser entendidas como um capital político se o governo consegue impor este debate às demais forças políticas e ocupar o centro da agenda.
Mas a maior incógnita para a sociedade argentina no médio prazo está no possível acordo com o FMI. Sem dúvidas, a capacidade do governo para impulsionar a demanda agregada e a reativação econômica vai depender de que tipo de acordo se consiga fechar com o FMI. E isso é central. Quando Mauricio Macri voltou a se endividar com o fundo em 2018, não só deixou entrar uma massa de dólares que terminaram em uma colossal fuga de capitais; deixou entrar também um ator político de peso, que impõe condições econômicas em nível local e tem efeitos sobre as alianças e o processo político.
Finalmente, talvez haja um problema mais grave do que tudo o que viemos analisando no horizonte: se o contexto persistir por mais um tempo, existe a possibilidade de que o que se perceba como esgotado pela cidadania não sejam os dirigentes políticos, mas sim as próprias instituições e a linguagem da política democrática. Hoje não temos garantias de que fadiga com as promessas não cumpridas da democracia não terminem se transformando em um ódio contra as suas instituições e, finalmente, contra os seus valores. A cúpula política, tanto da ala governista quanto da oposição, deve ter isso no radar em relação aos problemas atuais da Argentina.
O processo político argentino deve ser observado a partir dos países latino-americanos que estão atravessando processos de mudança ou que vão passar por eleições democráticas no médio prazo. Aqui se revela uma crise de hegemonia e uma disputa pelo rumo das democracias que atravessam toda a região. Não é casual que o estopim social de 2019 no Chile, que mandou para o cemitério a constituição de Pinochet, tenha derivado em paradoxais eleições presidenciais em que o pinochetista José Kast venceu no primeiro turno. Os anos de resistência e os triunfos eleitorais não asseguram vitórias políticas, embora o caso chileno tenha conseguido garantir a vitória eleitoral do ex-líder estudantil e agora presidente eleito, Gabriel Boric. A disputa pelo futuro do continente atravessa hoje um de seus momentos mais intensos e imprescindíveis.
Pablo Villarreal é sociólogo e cientista político da Universidad de Buenos Aires (UBA). Bolsista de doutorado do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet). Pesquisador do IIGG-FSOC-UBA, LEDA-UNSAM e Centro Cultural de la Cooperación.
[1]Em maio de 2018, no contexto da crise econômica, Mauricio Macri anunciou que negociava um novo empréstimo junto ao FMI. O montante acordado foi de US$ 57 bi, dos quais foram desembolsados US$ 45 bi. Esse foi o maior empréstimo da história deste organismo internacional, que violou seus próprios estatutos em relação aos limites de créditos concedidos. Ao mesmo tempo, o empréstimo financiou parte da fuga de capitais que chegou a US$ 86 bi durante o período “macrista”. A Argentina é hoje a maior devedora do FMI, representando 43% da carteira de crédito do organismo. Isso constitui um entrave para o crescimento econômico do país e um fator de desestabilização política.
[2] Javier Milei, então candidato a deputado federal pela coalizão Avanza Libertad (extrema direita) baseou sua campanha em um discurso contra “a casta política que vive do Estado”.
[3] No meio da pandemia da Covid-19, uma jornalista de um dos principais meios de comunicação opositores ao governo sustentou que a “Argentina é a primeira nação fora da União Soviética a aprovar a vacina Sputnik-V”. https://twitter.com/porquetendencia/status/1342139837495865348
[4] Na Argentina, as eleições para o Legislativo acontecem intercaladas ao pleito para o Executivo.
[5] Trata-se de uma eleição prévia que ocorre algumas semanas antes do pleito definitivo.
[6] Sergio Massa é o líder da Frente Renovadora, um setor importante do peronismo da província de Buenos Aires, que forma parte da Frente de Todos e, atualmente, é o Presidente da Câmara dos Deputados do país.
[7] O termo “radicalismo” remete à União Cívica Radical (UCR): um partido político histórico argentino surgido em 1916. Durante grande parte do século XX foi parte de um bipartidarismo que enfrentava o peronismo, mas depois da crise de 2001 e o fracasso do presidente radical Fernando de la Rúa, entrou em um franco retrocesso político, ainda que sempre mantendo uma base de poder nas províncias. Em 2015, o partido decidiu selar uma aliança política com o PRO, liderado por Mauricio Macri, formando parte minoritária do governo no ano seguinte.
[8] Facundo Manes é um reconhecido neurocientista que ingressou na política nessas eleições como representante da União Cívica Radical na aliança com Juntos por el Cambio.
[9] Proposta Republicana (PRO) é um partido político liberado pelo ex-presidente Mauricio Macri. Forma parte da aliança Juntos por el Cambio e atualmente atravessa um processo de disputa de liderança entre Macri e Horacio Rodríguez Larreta, actual Chefe de Governo da Cidade de Buenos Aires.
[10] Importante salientar que aqui o autor se refere à esquerda socialista, amplamente representada pela Frente de Izquierda (FIT) e não à Frente de Todos, que é peronista.