Um povo de pé
O discurso vazio do Executivo e a brutalidade policial testemunham a agitação febril do poder francês. E não poderia ser diferente: a contestação da reforma das aposentadorias carrega a semente do rechaço à ordem social sustentada pelo governo
Podemos fazer um governo recuar, pondo em xeque uma decisão do poder? Não faz muito tempo, a resposta era óbvia na França. Quando confrontado com movimentos sociais duradouros, determinados, organizados, que colocavam nas ruas multidões maciças, o poder muitas vezes batia em retirada. E seu recuo revelava a possibilidade, para a população, de se fazer ouvir fora dos períodos eleitorais, aos quais a vida democrática não se resumia. Os mais diversos projetos acabaram assim esquecidos: a lei de autonomia das escolas privadas em 1984, a da seleção para a universidade em 1986, o contrato de inserção profissional em 1993, o “plano Juppé” em 1995... Era comum inclusive que os promotores de uma reforma impopular pedissem demissão, como o ministro do Ensino Superior Alain Devaquet, em 1986, ou o da Educação Nacional Claude Allègre, em 2000. No entanto, a partir de 2006 e da luta vitoriosa contra o Contrato do Primeiro…