Um recado de Estocolmo + 50 para a pré-COP em Bonn: o tempo é já!
Estocolmo+50 e Bonn (SB56) se encontram no chamado para implementação de ações rápidas contra as mudanças climáticas.
Já se vai meio século após a primeira conferência mundial organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para estabelecer foco e prioridade sobre os temas ambientais. Como um dos resultados deste encontro, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP).
Em 2022, a ONU convocou uma reunião, dias 2 e 3 de junho, com o objetivo não só de celebrar a data, mas também de acelerar as ações de enfrentamento à destruição do planeta. Pois, ao contrário do que se imaginava em 1972, hoje observamos que acelerada foi a decadência da situação socioambiental e climática.
Se na primeira Conferência de Estocolmo houve um despertar para o problema, agora, novos conhecimentos e sofisticadas tecnologias para o enfrentamento da crise ambiental e climática estão à nossa disposição. Em que pese o negacionismo, o reconhecimento público internacional sobre as questões climáticas é incontornável. Contudo, passados 50 anos, continuamos sem força e vontade política para fazer o movimento radical necessário de mudança para outro modelo de desenvolvimento.
Na Estocolmo+50, 122 países se fizeram presentes para debater “como” acelerar as medidas para não nos confrontarmos com o pior, ou seja, um aquecimento do clima global acima de 1,5º, conforme definido no Acordo de Paris.
Durante as negociações, ficou claro o consenso em torno da perspectiva de que vivemos uma tripla crise planetária relacionada ao clima, poluição e resíduos e perda da natureza e da biodiversidade. Mas, como se isso não bastasse, dessa crise, outras emergem, tais como a crise sanitária da Covid-19 e uma nova guerra de proporções ainda incalculáveis entre Rússia e Ucrânia, remodelando a geopolítica mundial. Mudanças que já vinham acontecendo e que se apresentaram mais rapidamente com a eclosão da guerra.
Ainda que o tom da conferência de Estocolmo+50 tenha sido de urgência na ação para enfrentar o cenário de crise, o que nos parece é que os governos e os setores econômicos incorporaram mais o discurso e menos a ação emergencial concreta que, evidentemente, terá implicações políticas e econômicas aos que objetivam poder e lucro. A consciência se ampliou, mas falta muito movimento para concretização.
Os ativistas presentes se manifestaram pelo fim do uso dos combustíveis fósseis e pediram celeridade nas ações. Embora pouco ouvida, a sociedade civil conseguiu incluir no documento final de Estocolmo+50 a importante recomendação para a criação de um tratado visando a não proliferação de gases de efeito estufa no mundo. Penso que os nomes dos que lideram o mundo político e econômico precisam ser pronunciados, porque deverão ser responsabilizados pela falta de ambição e coragem de fazer as mudanças de rumo que os tempos de emergência exigem.
Na sequência de Estocolmo, está em andamento, entre os dias 6 e 16 de junho, as negociações preparatórias para a Conferência das Partes na Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 27 (COP27), que será realizada em novembro no Egito. Em Bonn, após três anos, volta-se ao formato pré-pandemia, reunindo os corpos subsidiários que trabalham sobre as questões de implementação (SBI, sigla em inglês) e desenvolvimento de soluções e tecnologias para o enfrentamento do aquecimento global (SBSTA, sigla em inglês).
Temas relacionados à mitigação e à adaptação, artigo 6º (mecanismos de mercado), financiamento, NDCs, balanço global e perdas e danos, farão parte da agenda que estará na mesa nesses próximos dias, sendo que o chamado para ação pela concretização da implementação rápida das medidas será o eixo orientador destas negociações. O tempo é já!
Iara Pietricovsky faz parte do colegiado de gestão Inesc.