Uma precaução contra o ódio
Os 121 intelectuais não eram traidores, pelo contrário. Significavam o melhor da França. Nós sabíamos disso e foi por isso que nos emocionamos. Aqueles homens e aquelas mulheres levantavam suas vozes contra algo que julgavam abominávelAhmed Ben Bella
O manifesto dos 121 repercutiu como um raio entre nós, dirigentes da revolução argelina, assim como entre muitos argelinos. Aquela tomada de posição nos precaveu, deve-se reconhecê-lo, contra sentimentos baixos, contra o ódio. A luta de libertação foi terrível. Nós fomos esmagados, feridos pela colonização. O manifesto serviu para nos lembrar que o povo francês não podia resumir-se àquela guerra que nos castigava. Existiam franceses que estavam do nosso lado, em condições terríveis. O povo francês também era um grande povo, com uma história rica e o gênio que lhe é singular. Não estávamos mais sós.
Não eram traidores, pelo contrário. Significavam o melhor da França. Nós sabíamos disso e foi por isso que nos emocionamos. Aqueles homens e aquelas mulheres levantavam suas vozes contra algo que julgavam abominável.
É preciso lembrar que, na época, havia certos bloqueios. A marcha para a independência não era fácil. E a evolução da guerra não se dava de forma contínua. Foi um parto com fórceps. Muito difícil. Houve períodos muitos duros, com paradas bruscas, alguns passos em frente. Mas esse movimento do outono de 1960 mostrou que estava acontecendo alguma coisa na França.
O manifesto foi uma etapa marcante no fim do colonialismo. Aqueles 121 intelectuais, assim como os nossos advogados e os “carregadores de bagagem” [1] tornaram-se mais que amigos nossos, tornaram-se parte da nossa carne. Expressavam essa escalada de consciência, esse ponto ômega de que falava Pierre Teilhard de Chardin, [2] onde o ser humano atinge seu mais alto grau de espiritualidade. Nós os admirávamos, os amávamos, sabíamos como era difícil para eles. E eles confirmaram que o ser humano está presente em toda a parte e que não se deve desesperar.
Nessa época, eu estava preso. Mas também conheci a solidariedade. Lembro-me que nos transferiram para uma prisão perto de Saumur. A Organização do Exército Secreto (OAS) tinha planos de nos liquidar em nossas celas. E nós sabíamos disso. Não posso dizer o que os nossos advogados fizeram, isso continua segredo. Mas posso dizer que nos preparamos para fugir, escapando dessa tentativa de homicídio. O que acabou não sendo necessário.
Sempre me lembro dos “carregadores”, dos advogados, com muita emoção. Eram os melhores dos franceses, os melhores dos argelinos