Uma transnacional contra Allende
Há quase cinquenta anos, em 11 de setembro de 1973, um golpe militar apoiado pelos Estados Unidos encerrou a experiência socialista no Chile – e a vida do presidente Salvador Allende. Durante esse período, a gigante das telecomunicações norte-americana ITT desempenhou um papel obscuro na desestabilização do governo. E abriu caminho para os atuais mastodontes do Vale do Silício…
Duas semanas após a eliminação de Salvador Allende e da democracia chilena pelo sangrento golpe de Estado de Augusto Pinochet, o New York Times recebeu tarde da noite uma chamada telefônica anônima. “Anote”, recomendou a voz no telefone, “porque não vou repetir.” Algo de inaudito estava a ponto de acontecer: “Em quinze minutos, uma bomba vai explodir no edifício da International Telephone & Telegraph”. O alvo, conhecido por sua sigla, ITT, não fora escolhido ao acaso: “Trata-se de uma represália pelos crimes cometidos pela ITT contra o Chile”.1 Na época, esse gigante da tecnologia, que se tornara um conglomerado tentacular, situava-se entre as maiores multinacionais do planeta. De seu ilustre conselho de administração participavam um antigo diretor da CIA e um ex-presidente do Banco Mundial – um casting ideal para colocar um dos maiores fornecedores do Exército dos Estados Unidos entre os principais aproveitadores, entre aqueles que mais lucraram com…