‘Uma Vaga de Sonhos’, de Louis Aragon
“Uma vaga de sonhos” revisita os pontos principais – ainda embrionários – daquilo que, ao longo do início do século XX, se consolidaria como o Surrealismo
Com tradução de Flávia Falleiros e publicação pela 100/cabeças, editora voltada a produções teóricas e artísticas dentro do movimento Surrealista, Uma vaga de sonhos, do poeta, romancista e ensaísta francês Louis Aragon, revisita os pontos principais – ainda embrionários – daquilo que, ao longo do início do século XX, se consolidaria como o Surrealismo tal como o conhecemos hoje. Vale ressaltar que ele foi originalmente publicado poucos dias antes do primeiro Manifesto Surrealista, de André Breton, considerado por muitos o material mais importante acerca do movimento, e que ambos os autores mantiveram contato e trocas a respeito do tema.

Créditos: Editora 100/cabeças
O livro, publicado em uma edição cuidadosa, é robusto em termos de notas e para-textos, ajudando o leitor a localizar-se dentro do texto, além de discorrer sobre a relação da tradutora com o material. Bem como outras publicações da editora, Uma vaga de sonhos também se caracteriza por um projeto gráfico muito bem pensado em tons de verde e preto.
A proposta de Louis Aragon fala sobre o sonho na tentativa de apanhá-lo (ou, ao menos, apreendê-lo) como matéria, tomando-se em consideração aspectos históricos, sociais e funcionais da época. Afinal, o que é sonhar perante um mundo que se concebe no conflito e na destruição da Primeira Guerra Mundial? O que a exposição a esse conflito traz aos sonhos?
Desta forma, pela linguagem de Aragon, somos encaminhados a um procedimento quase hipnótico, que visa acessar aquilo que é anterior à vida material, algo entendido como elemento primordial do pensamento, intrinsecamente crítico e artístico, portanto. Isso é demonstrado principalmente pelas descrições oníricas do autor, que chamam o leitor para participar e construir esse universo conjuntamente.
Laura Redfern Navarro é poeta, jornalista, fotógrafa experimental e crítica literária. Graduada pela Faculdade Cásper Líbero (FCL) pesquisa corpo, linguagem e liminaridade. Foi vencedora do ProAC em 2022 com o projeto “O Corpo de Laura”, que consiste em um livro e uma plaquete.