Uma vitória para chamar de sua
Quando expomos os mecanismos do poder, a situação internacional também nos alerta para os perigos da indignação desenfreada, da “oposição que contenta os descontentes”, da caixa de ressonância da mídia e das redes sociais que isola e, não raro, embrutece. Desde a eleição de Donald Trump, praticamente não se passa uma hora sem que a maioria da imprensa ocidental esmiúce as patetices, torpezas e malfeitos do ocupante da Casa Branca.
Em outubro de 2009, o Le Monde Diplomatique fez um apelo a seus leitores.1 Nosso jornal vinha sofrendo, havia três anos, prejuízos financeiros e, como muitos outros, via sua circulação diminuir anualmente. Vale dizer, sua existência – ou, o que é a mesma coisa, sua independência – não estava mais garantida. Passados oito anos, essa ameaça se dissipou. Como motivos de satisfação não são numerosos hoje em dia, é útil e ao mesmo tempo reconfortante analisar o que nos diz respeito diretamente e que, não bastasse isso, comporta uma dimensão mais geral, intelectual e política. A tiragem de um jornal não dá a medida certa de sua qualidade. Mas, toda vez que ele exprime uma corrente de opinião, uma filosofia – e não uma “marca”, um produto –, seu enfraquecimento pode sugerir que deixou de ser útil, que ninguém mais precisa dele. Em 2009, apostávamos que esse não era o…