Violência diante da caravana de Lula expõe fascismo nacional
Encerramento da viagem pelo sul terá ato suprapartidário contra a violência e em defesa da democracia
O que era para ser o encerramento de mais uma das caravanas do ex-presidente Lula em Curitiba tornou-se um ato suprapartidário em defesa da democracia e contra o estado de fascismo vivenciado pela comitiva que atravessou os três estados do sul do Brasil. Além do petista, o evento que acontece na Boca Maldita, centro da capital paranaense, nesta quarta-feira (28 de março) terá a participação de Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’ávila (PCdoB), ambos pré-candidatos à presidência, e de membros de outras legendas como o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Partido Democrático Trabalhista (PDT) .
A reação do progressismo nacional ocorre após a pressão efetivada pela emergência de ações fascistas e terroristas lideradas sobretudos por grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e por setores privilegiados da sociedade, a exemplo de latifundiários e membros pertencentes à elite de corporações. Ao longo de dez dias de deslocamentos, uma série de episódios de violência programada e financiada pela extrema direita colocaram em risco a vida do ex-presidente e dos que exerciam o direito democrático de transitar pelo país e apresentar a perspectiva de retomada da cultura de participação cidadã na política.
Milícias organizadas e com alto grau de inteligência seguiram os ônibus em todos os trajetos aproveitando-se do sentimento de impunidade diante da omissão dos poderes policial, judiciário e político. No terreno midiático, o tom de amenização adotado pelos meios de comunicação hegemônicos como Folha de S.Paulo, Rede Globo e Estado de S. Paulo tentaram aparentar a existência de um confronto natural entre apoiadores do PT e oposicionistas, passando a falsa ideia de haver uma disputa entre dois lados.
“É absurda a narrativa que a mídia apresenta para a população. A isso, soma-se a aceitação e até mesmo incitação de segmentos da classe política com relação ao que vem acontecendo. Apesar disso, realizamos uma caravana vitoriosa, Lula esteve junto do povo, mesmo com as tentativas de impedi-lo de realizar os objetivos de sua viagem, nossa resistência foi maior do que o medo promovido pelos radicais”, destaca o líder do PT e deputado federal Paulo Pimenta, que esteve em toda a caravana.
A eminência de confrontos diretos foi outra situação recorrente. No Paraná, por exemplo, em boa parte da passagem pelo estado as polícias Militar e Civil não escoltaram os ônibus, mesmo com os insistentes e oficiais pedidos feitos pelos organizadores da caravana. A omissão foi propícia para que um dos veículos que transladavam os jornalistas fosse alvejado por três tiros na noite de terça-feira (27), sem o registro de feridos. Em uma conversa informal logo após o ocorrido, um dos tenentes afirmava ter “nojo de Lula” ao fazer críticas a seu governo na presença de integrantes da comitiva.
A manifestação de repúdio ocorre na esteira da agressividade que se amplia a partir do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e do controle do Estado por políticos corruptos e impopulares cuja expressão maior está exatamente na figura do presidente ilegítimo Michel Temer (MDB) e de seu ministério formado por homens brancos e ricos. A falta de ação do recém-criado Ministério da Segurança, comandado por Raul Jungamnn, para garantir a proteção à caravana é sentida nacionalmente em outros casos diante do aumento no assassinato de líderes sociais e de chacinas contra pobres nas periferias e capitais do Brasil. O ministro limitou-se a dizer que os tiros contra os ônibus são “inaceitáveis”, sem colocar a Polícia Federal para investigar o crime.
Em Santa Catarina, no município de Chapecó, outra situação limite foi deflagrada. Além do arremesso de pedras e objetos contra os militantes houve risco de que o hotel em que o ex-presidente estava hospedado fosse invadido, situação debelada graças à equipe de segurança do ex-presidente e da presença massiva de movimentos sociais como o MST e a CUT, que atuaram como verdadeiros garantidores da integridade física dos representantes da esquerda brasileira. “Que não esperem ter um cadáver nessa caravana para entenderem a gravidade do que estamos passando”, advertiu a senadora e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.
Anúncio de campanha violenta
O Brasil já vivenciou campanhas eleitorais tensas, com a exploração de mentiras e direcionamento midiático a favor de determinados candidatos colocados pela direita. Apesar do passado conflituoso, os graves acontecimentos relatados no sul podem ser uma marca histórica e o prenúncio do clima inédito de ódio a ser enfrentado durante a campanha eleitoral presidencial, cuja votação está marcada para outubro.
O majoritário apoio popular a Lula está estabelecido por pesquisas que o colocam como favorito e possível ganhador ainda no primeiro turno a partir de seus consolidados 40% de intenção de voto, ainda que exista a tentativa de setores do Judiciário de impedir sua candidatura devido à condenação ratificada pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4) de Porto Alegre pela posse de um apartamento que pertence à OAS. A falta de provas e o ativismo político do Judiciário dão forças ao PT e ao campo progressista para não somente colocar Lula como candidato, mas para debelar qualquer tentativa de que se imponha um chamado plano B.
Para deixar claro que a violência não afastará Lula das ruas, o ex-presidente já anunciou que realizará novas caravanas pelas regiões Centro Oeste e Norte. “Se tem uma pessoa que fez muita viagem pelo Brasil fui eu. Antes de 1994, já havia percorrido 91 mil quilômetros de barco, trem e ônibus. Já fiz campanha política em todo o território, disputei as eleições de 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006 e nunca houve tanta violência. O que eu vejo agora não é política, é quase que o surgimento do nazismo. Se eles querem derrotar o PT devem lançar candidato e ir às urnas, quem ganha toma posse, quem perde vai chorar como eu já fiz tantas vezes. Se eles acham que vão nos assustar estão errados, vão é nos motivar ainda mais. Não podemos permitir que grupos fanáticos podem ofender mulher, chamar negros de vagabundos. Não vamos aceitar isso”, declarou o ex-presidente no Paraná.
*Murilo Matias é jornalista.