Terrorismo à brasileira
Expansão irrestrita das definições sobre terror no Brasil pode fragilizar ainda mais a democracia do país
Expansão irrestrita das definições sobre terror no Brasil pode fragilizar ainda mais a democracia do país
As três são imagens que expressam não só como a história dos espaços é, ao mesmo tempo, a história dos poderes constituídos, mas também como uma estrutura arquitetônica ou urbanística pode assumir funções políticas diversas, muitas vezes opostas às ideias evidenciadas pela iconografia política da cidade
Após o terrorismo dos atos do 8 de janeiro, as instituições – em maior ou menor medida, espontaneamente ou sob pressão – reagiram e vem reagindo ao pior ataque já sofrido por nosso precário regime democrático, aquele duramente (re)conquistado em 1988. Boa parte dessas reações, até o momento, vêm ocorrendo no campo punitivo
Se você, como eu, já chamou Bolsonaro de fascista e já recebeu críticas ao uso não rigoroso do termo fascismo, pode ficar tranquilo. Temos um bom fundamento teórico e prático
Apesar de aparentemente ultrapassado o terror vivenciado na capital federal, não podemos esquecer que a conclusão do bolsonarismo, ainda alimentado por seus financiadores intelectuais e econômicos, é de que não há resposta satisfatória à República
A contradição começa com o fato de que Jair Bolsonaro, líder dos que promoveram a barbárie, afirmava que os direitos humanos seriam o “esterco da vagabundagem”. Diante disso, cabe a pergunta: seus apoiadores integram essa “vagabundagem”?
A invasão representou o ápice do devaneio salvador, narrativa que corrobora com toda a criação mitológica em torno de uma personalidade. Nesse caso específico o devaneio vem sendo alimentado gradativamente através das redes sociais e dos grupos em aplicativos de mensagens
Não por acaso, diz Milan Kundera que “para liquidar os povos, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, sua cultura, sua história”. Para os que cultuam o inculto, restam os estilhaços da história sem culpa embalados por atordoantes cantigas que sequestram nosso hino nacional em amostras covardes de um falso patriotismo piegas
O Brasil necessita mudar (urgentemente) sua cultura de deixar em segundo plano o planejamento estratégico de segurança para ameaças internas e externas. A segurança e defesa é um tema sensível e que trabalha nas sombras; uma possível falha ou mau planejamento pode ocasionar em um desastre e foi o que aconteceu, e poderia ser ainda pior
Atribuir todas as dificuldades do momento a uma causa única já era uma prática da Roma antiga. Na época, Catão, o Velho, terminava todos os seus discursos, qualquer que fosse o objeto, exigindo que Cartago fosse destruída. Mais recentemente, em 1984, a televisão pública confiou ao ator Yves Montand a apresentação de um programa, Vive la crise!, destinado a fazer os franceses compreenderem que todos os seus males provinham do Estado de bem-estar social.
Grupos terroristas como a Al-Qaeda e a Organização do Estado Islâmico saudaram a ação das milícias armadas no Sahel e a vitória dos talibãs no Afeganistão. Entretanto, longe de se explicarem por uma guerra santa planetária, esses conflitos obedecem a uma lógica própria, do território. O recurso exclusivo à força, portanto, nunca vai ser bem-sucedido
O terrorismo causou, entre 1990 e 2016, quase 200 mil mortes em todo o mundo. Mais de dez milhões de pessoas perderam suas vidas em guerras civis em mais de 30 países; até 2016, 65,3 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocarem de seus países. Os territórios que mais sofrem são o Oriente Médio e a África