Você disse “sentimento de abandono”?
Fazer o que quiser em casa. Não depender de ninguém. Especialmente não depender de um Estado que não satisfaz mais as demandas que lhe são dirigidas, mas multiplica as exigências. Comum em áreas rurais, esse estado de espírito favorece o partido de extrema direita francês Reunião Nacional. Seus porta-vozes reforçam a capacidade de se destacar sem fazer reivindicações, desde que o mérito individual seja recompensado
Tornou-se evidente que, nas áreas rurais, as classes populares se sentem “abandonadas” pelo Estado. Isso seria inclusive um dos principais motivos de sua afinidade com o Reunião Nacional (Rassemblement National, RN); no entanto, também é uma porta de entrada para uma esquerda que procura se restabelecer fora das grandes metrópoles. Os economistas Julia Cagé e Thomas Piketty fazem dessa reconquista das classes populares rurais a “prioridade absoluta para o bloco social-ecológico”, convidando a combater seu “sentimento de abandono” com medidas sociais e econômicas adequadas.1 Contudo, o que essa expressão aparentemente benevolente de “sentimento de abandono”, entoada em uníssono por todo o campo político e midiático, realmente significa? Aqui, é necessário um alerta, pois as consequências sociais dessas palavras, usadas para resumir o que as classes populares pensariam, são mais evidentes do que nunca. Quando, por exemplo, a “insegurança cultural”2 se torna a chave para entender as ações dos “pequenos brancos”,…