A apropriação capitalista do imaginário
A ação coordenada de muitos países acertou ao impor limites ao capital, como criminalizar a mão de obra infantil, e acerta agora quando protege as crianças da voracidade publicitária. Porém, quando se trata de impedir que o mesmo capital explore o olhar e se aproprie dos dados mapeando o desejo das crianças – e dos adultos –, os governos ainda se omitem
Na véspera do último Natal, fui acordado bem cedo por um telefonema. Flávio, filho único de um casal amigo, meu vizinho, havia morrido. Tinha 20 anos e cursava o terceiro ano de Biologia. Conheci-o aqui em Havana, em janeiro de 2023, quando disse aos pais dele que Flávio era o filho que eu gostaria de ter. O rapaz se atirou do 10º andar do prédio em que morava. Não suportou os comentários nas redes digitais do coletivo feminista que, injustamente, o acusou de haver cometido abuso sexual. Pouco depois a postagem difamatória foi apagada. Era tarde. A indignação já havia impelido o rapaz ao gesto mortal de protesto. Na missa de sétimo dia, comparei o suicídio de Flávio ao do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, em 2017. Acusado injustamente de corrupto, não suportou a calúnia. Atirou-se do último andar de um shopping center. Como ele,…