A culpa é da União Europeia e dos mercados?
Diversas reformas empreendidas pelo governo francês têm por motivação oficial as exigências da Comissão Europeia ou ainda a necessidade de tranquilizar os mercados. Na realidade, um conclave oficioso tecnocrático e financeiro esboça, finaliza e impõe decisões que nem os parlamentos nem os debates públicos podem contrariar
Vai ser aos 64 anos. Em 10 de janeiro de 2023, logo após a mudança na idade legal para obtenção da aposentadoria oficializada pela primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, o economista Olivier Blanchard se perguntava: “Por que o governo arriscaria [enfrentar] greves e uma perda de capital político para impulsionar uma reforma de que a França não tem necessidade?”. As respostas ao tuíte de Blanchard insistiram então na necessidade de satisfazer os mercados financeiros – para atrair capitais – e a União Europeia – para se beneficiar do fundo de estímulos. No entanto, desde 17 de outubro de 2022, Bruxelas havia se resguardado de condicionar o desbloqueio do auxílio a uma reestruturação do sistema previdenciário. Nem pura submissão nem simples diálogo técnico, em que consistem exatamente as relações dos governos com as burocracias – públicas ou privadas, nacionais ou europeias – que seguem, influenciam ou participam da produção de suas políticas…