A descivilização
É inútil perguntar qual é a posição do economicus: “os outros” e “doar” não lhe interessam; sua grande questão é “si mesmo” e “se apropriar”. O discurso da descivilização proferido pelos próprios descivilizadores simplesmente adquire uma pompa mais sinistra.
Faz anos que se fala disso. E começou em Dordogne, na região francesa do Périgord. Uma correspondência entregue, em 2020, em todas as residências: “A coleta de lixo vai acabar em 2021”. Comunicado inquietante, comunicado engraçado: no começo, não soubemos agir de forma enérgica. Até o início das aparições. Uma manhã, a caminho do trabalho, descobrimos, encostados no cemitério: contêineres. Quatro ou cinco enormes caixas cinzentas com tampas verdes, amarelas e marrons – colocadas à beira dos túmulos. Lixeiras gigantescas instaladas entre os mortos. Estão perto dessas inscrições: “A partir de 2021, vocês deverão colocar seus lixos nos Pontos de Coleta Seletiva Voluntários”. E, depois, outras missivas para avisar aos habitantes sobre o bom uso que será feito, no futuro, de sua vontade. Seu remetente: o SMD3 – Sindicato Misto Departamental de Lixos de Dordogne. Ele também surgiu do nada (gerencial) e, visivelmente, foi criado para substituir o serviço público…