A divisão do poder no Irã
Diante dos protestos, que continuam determinados, o regime iraniano optou pelo método de endurecer para restaurar a calma. Entretanto, uma fração da hierarquia religiosa se arrepende da ausência de mecanismos de conciliação entre o poder e as manifestações
Em seu ensaio “A tirania”,1 o poeta e ensaísta Joseph Brodsky recomendava que a escolha de um tirano recaísse sobre um velho. O mestre de São Petersburgo postulava, entre outras coisas, que um ditador idoso se ocupa menos dos assuntos de Estado porque passa a maior parte do tempo cuidando de seu metabolismo. Essa sugestão valeria para Ali Khamenei, o guia supremo da Revolução e da República Islâmica desde 1989, que logo fará 85 anos? É o que sugere a aparente perplexidade do Guia diante da sucessão de motins provocados, em todo o Irã, pela morte de Zhina (Mahsa) Amini nas mãos da Polícia da Moralidade (Gasht-e Ershad), em 16 de setembro.2 No curso dessas semanas decisivas, ele foi atropelado pelos acontecimentos, até que suas forças da ordem, em 26 de outubro, começaram a fazer chover balas de verdade sobre os manifestantes, enquanto a violência ganhava os lugares santos do…