A esquerda e a mídia
Grande mídia: ir com ela ou não? Todo mundo que quer mudar o mundo já se deparou com esse dilema. De um lado, a necessidade de popularizar as lutas, o êxtase da visibilidade. De outro, a submissão aos padrões jornalísticos e à engrenagem da política como espetáculo
Quem poderia imaginar uma demonstração mais reveladora? Um jovem militante estudantil, Louis Boyard, destaca-se por sua combatividade; ele se torna colunista regular de um programa de televisão, Touche pas à mon poste, pouco considerado, mas com boa audiência. Sua notoriedade na mídia o ajuda a ser escolhido como candidato do partido de esquerda França Insubmissa; o voto dos eleitores o torna deputado. Quando ele volta como convidado ao programa que lhe garantiu notoriedade, o apresentador Cyril Hanouna, muito mais famoso que ele, o insulta assim que ele ousa questionar Vincent Bolloré, décima fortuna da França e dono do canal: “Você é um merda”, “cretino”, “seu idiota”, “não dou a mínima que você é deputado”. As invectivas que se acumulam ilustram o estado da relação de forças entre o mundo da política e o da mídia. O escândalo infla a audiência dos programas seguintes, nos quais todo mundo critica o “garoto”…