A grandeza perdida da malha ferroviária argentina
Curioso paradoxo das estradas de ferro na América Latina: inicialmente a serviço das metrópoles europeias ávidas por matéria-prima, elas atualmente encarnam uma perspectiva de soberania nacional por meio da integração dos territórios. Só falta deixá-las prontas após longos períodos de gestão privada, sinônimo da deterioração dos equipamentos
Estação Retiro-Mitre, Buenos Aires. Sob o arco estruturado por um entrelaçamento de ferro e vidro turvo, uma multidão de passageiros se apressa. No calor do verão austral, a maioria está saindo de férias. Diante deles, uma dezena de plataformas vazias e... um único trem. Um perfume de mate – uma infusão local – banha a longa fila de cerca de 500 metros onde famílias e viajantes solitários esperam. Bagagens nos pés (e travesseiros debaixo do braço para os mais prevenidos), todos se preparam para uma longa viagem. Na linha que liga Buenos Aires a Córdoba, as principais cidades do país, perder o trem significa perder três dias; a cada semana, apenas duas composições percorrem em treze horas, segundo os prazos oficiais, os 750 quilômetros que separam as duas metrópoles. De repente, soa uma voz. Ela agradece os viajantes por terem escolhido o trem, depois anuncia que eles deverão descer…