A impossível democracia de mercado
A democracia vai mal. A culpa seria das instituições, das redes sociais, do individualismo. Da “radicalidade dos extremos” ou, ainda, da impotência diante da violência econômica, que precisaria ser amenizada. No entanto, o capitalismo só é possível graças à separação entre o econômico e o político, o que o torna fundamentalmente antidemocrático
A crise da democracia que enfrentamos hoje não se origina exclusivamente na esfera política. Não será superada por meio da renovação do sentimento cívico, do cultivo ao bipartidarismo, do fortalecimento do “éthos democrático”, da revitalização do “poder constituinte” ou da libertação do poder do “agonismo” [transformação de relações antagônicas em agônicas, substituindo a ideia de inimigos pela de adversários]. Nem autônomos nem meramente setoriais, os males democráticos atuais representam o aspecto especificamente político da crise generalizada que devora todo o nosso ordenamento social. Sua origem reside nos próprios fundamentos dessa ordem – em suas estruturas institucionais e dinâmicas constitutivas. Só podem ser compreendidos dentro de uma visão crítica da totalidade social, frequentemente identificada como neoliberalismo, não sem razão. Contudo, é essencial situar o neoliberalismo como uma variante do capitalismo: e toda forma de capitalismo está sujeita a crises políticas e é hostil à democracia, dado que contém uma contradição intrínseca…