A ladainha húngara
No concerto europeu de apoio à Ucrânia, a Hungria toca sua própria partitura. Embora denuncie a agressão russa, o primeiro-ministro Viktor Orbán defende uma via de compromisso com Moscou. Essa singularidade, que o afasta de seus vizinhos, responde sobretudo a considerações ideológicas e de política interna. Para nacionalistas húngaros, o futuro está no Oriente
Desde seu retorno ao poder em 2010, Viktor Orbán percorre as periferias para travar uma luta contra Bruxelas. Ao mencionar muitas vezes “nós, os centro-europeus”, ele exorta as populações das antigas “democracias populares” a fazer valer sua diferença e não deixar que ditem sua conduta. Há mais de uma década, o primeiro-ministro húngaro defende igualmente uma diplomacia de “abertura para o leste” visando reduzir a forte dependência econômica do Ocidente, mas ao mesmo tempo “se libertar dos dogmas e das ideologias em curso na Europa Ocidental”;1 em outras palavras, da democracia liberal. Por muito tempo, o desinteresse dos Estados Unidos pela Europa Central foi uma bênção para Orbán, que vê em seus “rivais” – China e Rússia – modelos de Estado a serem seguidos para fazer da Hungria uma nação mais competitiva na globalização. A entrada das tropas russas na Ucrânia em 24 de fevereiro mudou o jogo. A União…