A saída é pelo Sul
Ucranianos partem do diagnóstico de que os povos que sofreram formas de opressão várias são mais equipados para entender seus esforços por autonomia
Ucranianos partem do diagnóstico de que os povos que sofreram formas de opressão várias são mais equipados para entender seus esforços por autonomia
Combates entre a França e a Rússia? Anteriormente inimagináveis, a hipótese se instalou após as declarações de Emmanuel Macron evocando uma “guerra existencial” e o envio de “tropas ao terreno” da Ucrânia. Desde então, o tom não para de subir em Paris e Moscou. Uma escalada que parece encantar os meios de comunicação franceses, em sintonia com o presidente da República
Com o aumento do custo humano dos combates, a Ucrânia tem dificuldades para recrutar voluntários para a frente de batalha. Diante de um povo que pede justiça, o governo exibe uma política anticorrupção, mas acelera o desmantelamento do Estado social e dos sindicatos. Tudo isso em um país em guerra no qual combatentes mutilados precisam contratar advogados e cidadãos deslocados têm de abrir procedimentos administrativos pelo smartphone
Quando a Rússia se retirou do acordo ucraniano sobre cereais, ameaçando a exportação por navios, a União Europeia tentou manter os corredores de segurança a todo custo, evitando que alguns Estados-membros fechassem suas fronteiras para os produtos de Kiev. Para além da guerra, essa crise anuncia as consequências de uma adesão acelerada da Ucrânia ao bloco europeu
Desde o século XIX, os pensadores revolucionários se perguntam sobre a oposição entre as reivindicações nacionalistas e as exigências da luta de classes. Confrontados com essa mesma questão, Vladimir Lenin e Leon Trotsky subordinavam os interesses nacionais aos do proletariado
O trigo ucraniano continuará sendo exportado pelo Mar Negro? Indispensáveis para a luta contra a crise alimentar mundial, esses carregamentos dependem de um acordo entre a Rússia e a Ucrânia assinado sob a égide das Nações Unidas e da Turquia. O bloqueio das exportações de fertilizantes russos, também indispensáveis para a agricultura mundial, ameaça esse arranjo provisório
Ao contrário do que aconteceu nas guerras do Golfo e do Kosovo, a mídia ocidental evita qualquer análise crítica sobre seu tratamento do conflito em curso. Como explicar a persistência desse silêncio um ano após a invasão da Ucrânia? A natureza indefensável da agressão russa justifica que os jornalistas assumam o entusiasmo pela guerra?
Em 14 de janeiro, o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak anunciou o envio de tanques Challenger 2 para a Ucrânia. Londres abriu assim caminho para a entrega de armas pesadas a Kiev: desde o início da invasão russa, o Reino Unido dá o “tom” à Europa, em sintonia com os Estados Unidos. Apesar do Brexit. Apesar dos discursos franceses sobre a soberania estratégica europeia
Fórum universal de 193 países, a Assembleia Geral da ONU revela as rachaduras de uma nova geopolítica. A votação das resoluções relativas à Ucrânia mostra uma África dividida e relutante em seguir as escolhas ocidentais. Hesitações sem precedentes, que não podem ser explicadas apenas pela renovação das relações do continente com a Rússia
Ao envolver massas consideráveis de homens e equipamentos e ao se desenrolar em novos terrenos – o espaço, especialmente –, o conflito entre Kiev e Moscou tem uma natureza inédita. A menos que haja exaustão brutal de uma das partes, parece improvável que a guerra termine em vitória militar. Enquanto isso, a diplomacia continua interrompida
A guerra na Ucrânia já soma quase 200 mil mortos e feridos, e os apelos por negociações para um cessar-fogo aumentam, sem impedir a intensificação do conflito. Em dificuldades no front, a Rússia bombardeia as cidades ucranianas a partir de seu próprio território. E os Estados Unidos continuam a entregar armas cada vez mais sofisticadas à Ucrânia
A resistência a um invasor alimenta-se de símbolos compartilhados, de um fundo comum que afirma uma identidade ao mesmo tempo que constrói uma lenda ao longo dos acontecimentos. A mobilização patriótica na Ucrânia provém das fontes mais heterogêneas. Entre elas, um hino cantado por combatentes ucranianos que atuavam no Exército austro-húngaro em 1914 obtém um sucesso inesperado