A luta do igualitarismo por um lugar no futuro
As análises no campo das esquerdas têm se dividido entre duas grandes: a primeira prioriza a correlação de forças negativa; a segunda enfatiza a ausência de um programa econômico antineoliberal. É cômodo dizer que a verdade está em um meio-termo. Contudo, deve-se ir além e recusar a simplificação apriorística de uma oposição entre “fazer concessões” e “radicalizar”
Em artigo publicado há pouco mais de um ano,1 argumentei que a ideologia neoliberal atualizou, com êxito inegável, as três invariáveis da retórica da reação, tal como exposto por A. O. Hirschman. Em resumo: qualquer ideia de mudança baseada em valores igualitaristas é ineficaz ou pior à vida material da maioria da sociedade. Dito de outro modo, tudo o que atende prioritariamente aos interesses das classes e grupos dominantes seria, com o tempo, melhor para os dominados e oprimidos. O texto terminava assim: “o novo governo petista tem, à sua frente, o desafio histórico, e decisivo, de renovar a esquerda igualitarista, interditando não apenas a resposta neofascista, mas também a versão neoliberal [do anti-igualitarismo] que impede, em seu interior, a superação desse impasse”. Prestes a chegarmos à metade do Lula-3 e após os resultados das urnas nas eleições municipais, a avaliação geral até aqui está longe de ser otimista. As…