A mídia e o projeto de desdemocratização do Brasil
A crença dos governos petistas de que o fortalecimento da principal adversária do Grupo Globo, a RecordTV, pudesse favorecer, do ponto de vista midiático, um cenário mais plural teve consequências trágicas e centrais na ascensão da extrema direita. A lição de que o controle remoto não resolveria a questão veio tardiamente
A comunicação no Brasil nunca foi democrática, e a dependência da verba pública colabora para que os interesses políticos do grupo vigente penetrem com maior facilidade na programação televisiva e radiofônica e na imprensa. Focada no entretenimento e com uma estrutura que espelha até hoje as diretrizes para a comunicação definidas pela ditadura, é a televisão que constrói a agenda pública brasileira. Entre 2003 e 2018 houve uma mudança paradigmática nesse setor: o número de emissoras sob posse de grupos políticos tradicionais estagnou e as emissoras vinculadas a entidades religiosas quintuplicaram. Atualmente, 36,5% das emissoras de televisão estão ligadas direta ou indiretamente a políticos e/ou parentes, enquanto 42,7% são vinculadas a entidades religiosas. À queima-roupa, os números podem indicar que essa realidade é uma consequência da ampliação da porcentagem de evangélicos na população brasileira. Ledo engano. A mudança reflete a fragilidade das políticas públicas para a comunicação no país na…