A União Europeia depois de Angela Merkel
À frente de uma coalizão sem identidade política, o novo chanceler alemão, Olaf Scholz, deverá resolver uma série de contradições que sua predecessora contornou com habilidade: as visões divergentes de Paris e Berlim sobre a Europa e a segurança; a relação com a China e a Rússia, clientes e fornecedores indispensáveis, mas também adversários no campo dos valores, entre outras questões
Em 8 de dezembro de 2021, a chanceler alemã Angela Merkel deixou o cargo após dezesseis anos no comando do país. Em retrospecto, talvez seus quatro mandatos sucessivos sejam lembrados como uma era de ouro durante a qual decisões incômodas ainda podiam ser adiadas, dilemas dissimulados sob negações otimistas e conflitos abafados pela distribuição de dinheiro, real ou imaginário, emprestado ou impresso. Ao longo desse período, uma Alemanha forte e próspera se estabeleceu como exemplo e, sobretudo, como a potência central de uma União Europeia cada vez mais parecida com um império. Desse modo, ela pôde intervir nos assuntos internos dos países periféricos, quer indiretamente, por meio da institucionalidade do bloco, definindo as políticas (sobretudo econômicas) admissíveis no âmbito do Mercado Único e da União Monetária Europeia, quer diretamente, escolhendo seus governos – como na Grécia e na Itália. Na Alemanha, o debate público apresenta a particularidade de ignorar quase…