Agora, tudo é cultural!
Quase todos os políticos concordam em afirmar, com uma convicção tocante, que a cultura é fundamental para a democracia. Falta definir em que e como. Da “democratização” à “democracia”, da “exceção” à “diversidade”, a política cultural mudou profundamente desde o escritor e ministro da Cultura André Malraux, particularmente nas fileiras da esquerda
A pandemia provocou uma grave crise do setor cultural (não essencial), mas esse infeliz acontecimento apenas trouxe à luz uma situação mais antiga e de maior amplitude: a do declínio das políticas culturais há várias décadas e da perda de referências, nessa área, por aqueles que nos governam. Os sinais exteriores mais elementares são perceptíveis à primeira vista, pelo lugar que a questão cultural ocupa nas campanhas eleitorais, nas quais é reduzida ao mínimo ou a nada. As manifestações são múltiplas, mas convergentes, em um contexto dominado pela lógica empresarial e pela confiança cega nas virtudes do mercado: ausência de interesse pelas problemáticas artísticas e culturais no recrutamento e formação das novas elites; rotatividade rápida dos ministros da Cultura (quatro durante os sete anos de Valéry Giscard d’Estaing, três durante os cinco de François Hollande e já três durante os quatro de Emmanuel Macron); deriva incontrolável das mídias de massa…