Ajuda ou intervenção?
Sem cair num culturalismo caricatural e perigoso, é preciso “desocidentalizar” as intervenções externas em tragédias como o Haiti, evitando-se uma situação de monopólio e fugindo dos interesses das grandes potências, reafirmando, de maneira imperativa, o caráter não-governamental da ajuda
Bhubaneswar, capital do Estado do Orissa (nordeste da Índia), 24 de janeiro de 2010. Comprimindo-se de estande em estande, na grande exposição nacional dos artesãos que ocorre anualmente, os casais contemplam ou compram os tecidos e saris produzidos na península. Na entrada da vasta zona mercantil, dois homens desfraldam uma bandeirola. Um terceiro distribui folhetos. “O povo do Haiti necessita de sua ajuda”, lê-se nos logotipos de sua organização não-governamental Ananda Marga Universal Relief Team (Amurt), fundada em 1965. Como a compaixão pelo drama haitiano atinge as costas do golfo de Bengala, nesse país tão distante quanto diferente? É que as duas zonas têm, pelo menos, um ponto em comum: o de pertencer a regiões particularmente expostas às catástrofes naturais. Orissa foi atingido por fortes ciclones nas últimas décadas, como o Haiti em 2008. Afetando seis milhões de pessoas, o primeiro, no dia 28 de outubro de 1971, fez seis…