Capitalismo: sistema desmedido e destruidor
Em seu último livro, o filósofo Anselm Jappe, um dos representantes mais notáveis e inovadores da escola da teoria do valor, analisa o capitalismo como um sistema em que o valor mercantil impõe uma dominação abstrata, impessoal, que esmaga tudo em seu caminho, como um trator monstruoso
Anselm Jappe é um dos representantes mais notáveis e inovadores da escola da teoria do valor, fundada por Robert Kurz e pela revista Krisis. Seu último livro, A sociedade autofágica (Elefante, 2021), é uma contribuição apaixonante à crítica do capitalismo, sistema baseado na desmedida e na destruição. Jappe compara o capitalismo a um personagem da mitologia grega, Erisictão, cuja fome nada podia saciar: ele devorava tudo à sua volta e acabou por devorar a si mesmo. O capitalismo, com alicerces no valor mercantil, partilha essa hybris, essa desmedida: não conhece limites nem entraves a seu crescimento. Forma geral da produção e da reprodução da sociedade, princípio de síntese, o valor é uma abstração, uma quantidade, um número puro; com sua exigência de rentabilidade, colonizou todas as esferas da vida. Insaciável, devora a vida dos humanos e da natureza, sem descanso nem trégua. A concorrência no mercado obriga cada ator a…