Contexto político
A questão chave é: os ex-tucanos acrescentam votos para levar a vitória do PT no primeiro turno? Muito difícil. Segunda questão: os petistas farão realmente uma campanha para Lula e Alckmin ou terão vergonha dessa chapa?
O término do mês de março indicou muito como será o cenário eleitoral de outubro. Lula (PT) continuará na frente, no entanto terá Bolsonaro (PL) mais próximo das pesquisas. Por outro lado, a famigerada terceira via, que para mim nunca existiu, virou poeira neste mês de abril. Dória (PSDB) tem mais medo de Eduardo Leite do que de Lula ou de Bolsonaro. Sergio Moro (União Brasil), com medo de ficar sem o foro privilegiado, mudou de estratégia política e não mais disputa a presidência, e Ciro Gomes (PDT) continua no limbo midiático e discursivo, tendo minha aposta de que ficará abaixo dos 10% dos votos válidos neste ano eleitoral em vista dos 12% conquistados em 2018.
Com o fim da janela partidária em 1º de abril, 132 dos 511 deputados federais mudaram de partido em um mês, ou seja, 25% deles. Lembrando que, quanto maior a bancada de deputados, o valor do repasse do fundo partidário aumenta. O partido que saiu com a maior bancada, conforme o site da Câmara dos Deputados, foi o PL com 74, PP com 50, Republicanos com 45. Na esquerda, temos o PT com 56, o PSB com 25, PC do B com 7. E também os partidos que buscam ser terceira via: PSD com 43, PDT com 20, Novo com 8, União Brasil com 47, MDB com 35, Cidadania com 7, Podemos com 8 e o PV com 3. Esses números podem mudar, porque ainda há deputados nos tramites burocráticos da transição de um partido para outro.
Na corrida presidencial, Dória e Moro encontraram pedras. Dória conseguiu pular uma dessas “pedras” e, via blefe, obteve o que queria: uma decisão oficial do PSDB para sua candidatura à presidência que reconheceu sua vitória nas prévias do partido em novembro de 2021. É uma candidatura sem vida, sem metas e com muito marketing pessoal do ex-governador de São Paulo. Dória é tão vazio de conteúdo que nem o seu partido acredita nele. Já Moro, outro que gostaria de ser grande, mas experimenta a sua insignificância, é rejeitado até no novo partido no qual buscou refúgio, o União Brasil (uma espécie de união da extrema direita no país: PSL e DEM). Moro ficará na história por ser o protagonista na condenação de Lula, porém também por seus “ex”: ex-juiz, ex-ministro, ex-candidato à presidência pelo Podemos. Enfim, não podemos (desculpe o trocadilho) esperar dele nada mais nada menos do que desistência, apatia e discursos feitos por meio de uma leitura monótona e sem entusiasmo.
Para a sua equipe, o presidente Bolsonaro tende a crescer a partir de agora, sem Moro retirando alguns de seus votos e com o tema da eleição ficando rotineiro. Consequentemente, Bolsonaro vai ocupando espaço na mídia e reconectando com os seus eleitores. Entretanto, o escândalo relacionado ao ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, por distribuir dinheiro público a alguns pastores, pode trazer problemas para sua imagem. Ribeiro falou em depoimento à Polícia Federal, no dia 1º de abril, que o Presidente indicou os pastores para serem atendidos no MEC. Caso a investigação aponte de fato atos de corrupção dos pastores junto ao Ministério da Educação (MEC), com certeza, o presidente Jair Bolsonaro será alvo da justiça e da oposição política na campanha eleitoral.
Além de Ribeiro, outro político em debate, o então deputado Daniel Silveira (União Brasil), pré-candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro, pode prejudicar a campanha de Bolsonaro, pois Silveira é visto como arrogante no parlamento (pelo menos nos bastidores) e sua aproximação com o presidente pode dificultar projetos do governo dentro do parlamento. O próprio presidente da Casa de Leis, Arthur Lira, lavou as mãos no caso da tornozeleira eletrônica. A questão Silveira atrapalha mais a campanha do que auxilia. Contudo, é uma mensuração difícil de se fazer, pois o bolsonarista raiz gosta de líderes contra o sistema político e jurídico, usando o próprio sistema e suas regalias como ferramentas para escrever narrativas desconexas da realidade e de cunho machista.
Na ponta da pesquisa, Lula abraça Alckmin com um sorriso amarelo. Devemos lembrar que política eleitoral é uma busca pelo poder político e votos, por isso, trazer o ex-adversário para o quintal petista é uma grande estratégia de poder e acalma os ânimos do mercado financeiro, que gosta de ter grandes margens de lucro com especulação “do mercado” e da exploração dos trabalhadores. A questão chave é: os ex-tucanos acrescentam votos para levar a vitória do PT no primeiro turno? Muito difícil. Segunda questão: os petistas farão realmente uma campanha para Lula e Alckmin ou terão vergonha dessa chapa? Complicado responder, mas acredita-se que os eleitores de Lula não mudarão de postura, mesmo com essa aliança com o PSB, de esquerda, pero no mucho.
Uma tendência que as pesquisas eleitorais estão apontando é a concentração de intenção de votos entre a esquerda e a direita mais radical. Isso significa que partidos sem uma identidade clara conquistarão menos votos, ou seja, o próximo parlamento será menos fragmentado que o de 2018, com 30 partidos na Câmara Federal. Portanto, analiso que a Câmara poderá retornar ao patamar de 2006, apresentando 21 partidos com representantes na Casa de Leis. Um diagnóstico para tal concentração está na sociedade que opta entre um modelo político mais à esquerda ou outro à direita, considerando ainda que a regra eleitoral agora conta com uma cláusula de desempenho dos partidos. Conforme o próprio site da Câmara dos Deputados, “os que não conquistarem pelo menos 2% dos votos válidos para a Câmara e mais, distribuídos em pelo menos nove estados, com um mínimo de 1% (um por cento) dos votos válidos em cada um deles” não terão acesso ao Fundo Partidário e nem à propaganda gratuita no rádio e na televisão. Assim, fusões e federações serão feitas em número maior do que em outras eleições, pois os partidos não querem abrir mão do dinheiro público e de espaço na mídia.
Por querer ver uma mulher candidata, gostaria de analisar a participação da senadora Simone Tebet (MDB) como uma possível presidenciável viável de fato para o pleito de outubro. Mas assim como ela, Felipe D’Ávila (Novo) e, em certa medida, André Janones (Avante) optaram por um acordo: primeiro, com a elite econômica e política, para depois comer pastel na feira com o povo. Esses candidatos da terceira, quarta ou quinta via ainda não entenderam que esta eleição tem o (neo)populismo como lastro eleitoral, e aquele presidenciável que mais sensibilizar as pessoas terá um maior percentual de votos na eleição.
Israel Aparecido Gonçalves é professor de História do Instituto Federal Catarinense – Campus São Francisco do Sul, mestre em Ciência Política pela UFSCar e doutorando em Sociologia Econômica na UFSC.