Crimes, canards e canções
No princípio está o fait-divers, a notícia cotidiana, que pode ser tanto real como inventada, mas é quase sempre sangrenta. Na França, do fim do século XV até a Libertação dos nazistas, pequenas publicações vendidas por ambulantes descreviam, nos mínimos detalhes, homicídios, assassinatos e outros casos sórdidos. Havia o texto, que cada um comentava à sua maneira, e a complainte, ou lamento, cantada sobre uma melodia conhecida. Eles ofereciam uma catarse coletiva a um público sempre ansioso por esse tipo de história
Pode parecer deslocado, nas colunas de um periódico, celebrar um veículo de comunicação que só publica... se tiver algo a dizer. Sem compromisso com os prazos de fechamento, esse curioso objeto editorial foi apelidado de “ocasional”, “efêmero” ou canard. Surgido há seis séculos na França, ele só desapareceu mesmo depois da Libertação [dos nazistas], após uma longa e pouco conhecida carreira. Incluindo, em geral, manchete, ilustração e narração, ele é estranhamente complementado por uma forma cantada, uma complainte, sobretudo quando trata de assuntos criminais, desde as notícias mais sórdidas até os assuntos políticos não menos célebres. A meio caminho entre o conto dramático e o Grand Guignol – o teatro de horror parisiense –, essa publicação por muito tempo fascinou multidões, até ser suplantada pelas revistas, com destaque para a Détective, e principalmente pelo rádio e pela televisão – basta pensar em programas franceses como Faites entrer l’accusé [Tragam o…