Depois de Tobin
Os Estados salvaram os bancos sem impor outra contrapartida além de lucros ainda mais gordos. Mas nenhuma decisão foi tomada contra as finanças, que segue sendo alvo dos ataques mais dissonantes.Serge Halimi
Em 1997, nosso jornal popularizou a ideia de uma taxa sobre as transações financeiras.1 Estas representavam então quinze vezes a produção anual mundial. Hoje representam quase setenta vezes. Quinze anos atrás, falava-se pouco sobre os empréstimos subprime e ninguém imaginava uma crise da dívida soberana na Europa. A maioria dos socialistas europeus, enfeitiçados por Tony Blair, só acreditava na “inovação financeira”. Nos Estados Unidos, o presidente Bill Clinton se preparava para encorajar os bancos a especular com o dinheiro de seus clientes. Quanto a Nicolas Sarkozy, ficava pasmo diante do modelo norte-americano, louvando a política (cheia de calamidades futuras) do Federal Reserve.2 E sonhava com empréstimos subprime à francesa…
Basta dizer que em 1997 a taxa Tobin não foi bem recebida pela imprensa: tudo estava indo tão bem! O ministro francês da Economia e das Finanças, Dominique Strauss-Kahn, a julgou logo de início impraticável. E Sarkozy acrescentou: “O caso da taxa Tobin é um absurdo […]. Cada vez que punimos a criação de riquezas em nosso território, favorecemos a criação de riquezas dos outros”.3 Assim que se tornou presidente da República, ele inclusive encarregou sua ministra da Economia e das Finanças, Christine Lagarde, de suprimir um imposto da Bolsa. A atual diretora-geral do FMI justifica assim esse ato: “É uma medida que deve reforçar o interesse em Paris como local financeiro”. Sem a qual, prevenia ela, “a execução de um certo número de ordens [se faria] a partir de locais estrangeiros que já aboliram há muito tempo os impostos equivalentes”.4
Desde então, os eventos estabeleceram o descuido dos responsáveis políticos que esperavam tirar proveito da “inovação financeira” praticando o dumping fiscal. Os Estados salvaram os bancos sem impor outra contrapartida além de lucros ainda mais gordos. Mas nenhuma decisão foi tomada contra as finanças, que segue sendo alvo dos ataques mais dissonantes. Nos Estados Unidos, até mesmo os candidatos republicanos ultraconservadores fustigam agora os “abutres” de Wall Street, que “roubam todo o dinheiro de sua empresa, provocam sua falência e vão embora com os milhões”.
Não nos surpreende então que, quatro meses antes do fim de seu mandato, Sarkozy finja “fazer as finanças participar da repartição dos danos que elas provocaram”. Esquecido o “absurdo” de uma taxa sobre as transações financeiras; desaparecido o perigo de ver no cesto estrangeiro os ovos de ouro da especulação.
Poderíamos também continuar nos satisfazendo em “jogar areia nas engrenagens das finanças”, como pedia o economista James Tobin. Mas, já que foi estabelecido que ela representa um bem público vital cujos acionistas podem sequestrar a coletividade, é preciso que nós também avancemos. E exijamos que os bancos deixem de pertencer a interesses privados.
Serge Halimi é o diretor de redação de Le Monde Diplomatique (França).