Desmistificando o vício em apostas online
O jogo não mata, mas está associado a transtornos mentais que podem impactar o âmbito econômico e psicossocial
Entre especialistas em saúde mental, é praticamente unânime o entendimento de que a “repressão” não é um modo assertivo de lidar com sintomas e emoções difíceis e contraditórias. Por outro lado, a atitude de abertura e receptividade promove o conhecimento e a posterior integração de tudo aquilo que, inicialmente, gera sofrimento e incompreensão. Jogos e apostas fazem parte da história da humanidade. Defender a proibição total dos jogos lança sobre uma atividade ancestral o estigma da contravenção.

No fundo, políticas públicas de Saúde Mental são necessárias para que haja tratamento para a fração de apostadores que apresentam perfil de dependência comportamental. Para enfrentar o desprezo histórico que a Saúde Mental sofre no Brasil, a sociedade deve se organizar em todas as instâncias, sejam elas estatais ou privadas, como é o nosso caso aqui na EBAC.
Nós, da EBAC (Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo), nos organizamos para oferecer soluções de atendimento e implementar procedimentos no campo do jogo responsável. As empresas que operam no mercado de apostas online nacional devem estar em conformidade com a legislação vigente no país para detectar e orientar apostadores com potencial transtorno.
O jogo não mata, mas está associado a transtornos mentais que podem impactar o âmbito econômico e psicossocial, especialmente quando não é praticado de maneira adulta e responsável. Essa deveria ser a resposta mais assertiva. Mas como avaliar isso? Certamente, há variações nas situações individuais apresentadas por cada apostador. Só quem participa dessa dinâmica pode dizer se está sofrendo ou não por causa disso. O jogo é entretenimento, não uma fonte de renda. Todas as pessoas saudáveis possuem um código, uma maneira de interpretar a vida, com limites pré-estabelecidos. Isso, muitas vezes, nos preserva.
A dificuldade que pode acometer cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil está, muitas vezes, associada à maneira como uma parcela desse público é estigmatizada. Contudo, percebemos que esses espaços promovem o alívio do estresse da rotina de trabalho e, muitas vezes, trazem o compartilhamento de histórias inspiradoras, que podem servir como exemplo e estimular uma prática consciente e equilibrada. A resposta não é simples. Diversas são as ilações que podemos fazer para investigar as motivações individuais de cada pessoa, levando o hábito a se tornar uma patologia. Esse aspecto também deve ser trabalhado ao longo do processo de conscientização do indivíduo. A ética deve estar consolidada como princípio, para que a diversão não se transforme em doença.
Acredito que os jogos e apostas online, por envolverem chance e risco, contribuem para o alívio do estresse e a ativação da imaginação em uma sociedade pautada pelo desejo e pelo consumo. Se o valor apostado está livre das despesas fixas e obrigatórias, não há por que condenar quem recorre a esse tipo de lazer para contornar as vicissitudes da rotina diária.
Mas, tão ou até mais importante do que isso, essa perspectiva nos transforma em seres adultos, capazes de compreender as consequências e de reconhecer que não podemos nos perder em decorrência de nossas frustrações.
Por isso, todo jogador deve praticar o jogo responsável. Essa é uma maneira de controlar o tempo e o dinheiro dedicados à atividade. Com uma abordagem educativa que esclarece quais são os limites saudáveis da prática e oferece dicas para que as próprias pessoas avaliem seus comportamentos.
Cristiano Costa é psicólogo clínico e organizacional, diretor de conhecimento (CKO) da EBAC (Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo), que implementa programas psicoeducativos voltados para o Jogo Responsável